por Bruno Cavalcanti
James Taylor e Elton John
Show: In Concert (Taylor)
Show: Wonderful Crazy Night Tour (John)
Data: 06 de abril
Local: Allianz Parque – São Paulo (SP)
Não se engane, a despeito do nome e da expectativa, na turnê conjunta que os astros James Taylor e Elton John (em fotos de M. Rossi) apresentaram na noite de quinta-feira, 06, no Allianz Parque, em Pompéia, eles jamais se encontram. Na verdade, em análise fria, o show pertence mesmo ao hitmaker inglês, enquanto sobra ao norte americano uma ponta como a abertura de luxo.
Contudo, à medida que ambos os shows se desenvolviam – cada um a seu momento – fica claro o porquê de nenhum dos dois dar uma canja no espaço do outro. James Taylor e Elton John, ambos já no grupo dos setentões, se bastam em cena com um domínio de palco impressionante.
A dupla sabe quem é e o que espera seu público que, na noite de 06 de abril, tinha cabeças brancas com espírito jovem mescladas a jovens corpos com franco saudosismo do que não viveram.
E foi esse saudosismo que marcou as duas apresentações. Ao longo de pouco mais de uma hora e meia, Taylor lançou mão de apenas uma música de seu atual repertório: Today, Today, Today, do (revigorante) último disco Before This World (2015). No mais, foi uma sucessão de hits que, em sua maioria, surgiram entre as décadas de 1970 e 1980. Everyday (1985), Walking Man (1974) e Country Road (1970), todas presentes e com arranjos que remetiam a suas gravações originais.
Não que o público (que, a medida que o show transcorria, foi lotando o estádio) se importasse com detalhes tão pequenos de uma apresentação que provou que Taylor ainda é o senhor da cena. Com um português irrepreensível, o astro relembrou os 32 anos que separam sua primeira apresentação no Brasil no primeiro Rock in Rio em 1985 deste show regado a saudade.
Foi essa saudade que trouxe de volta Only a Dream in Rio (1985), cantada metade em sua versão original em inglês, metade em uma competente tradução tupiniquim. Mas, entre “obrigados” (quase) sem sotaque, Taylor também não se privou de experimentar outras influências dos nossos vizinhos, temperando First Day of May com saboroso molho latino e viajando com certos estereótipos ao Mexico (1975). O público foi a loucura. Com razão.
Mesmo sem tocar seu lendário violão, o cantor estava bem amparado de uma banda de dez músicos, que fizeram toda a diferença na execução do blues Streamroller (1970) e na (sinceramente) tocante You’ve Got a Friend (1971), a composição de Carole King que o astro folk tomou pra si desde os idos anos 70.
Já ao fim do show, quando saía de cena ciente de que deixou sua missão cumprida, Taylor avisou: aguardem mais um pouco, Elton John é o próximo. E, pontualmente, às 22h, o astro britânico subiu ao palco já elétrico e repleto de energia ao som de The Bitch is Back (1974). Em uma sucessão de hits, John usou do mesmo artifício de seu colega e salpicou apenas uma canção do novo milênio no roteiro.
Looking Up, de seu último álbum de inéditas Wonderful Crazy Night (2016), não fez nem cócegas na animação de um público que permaneceu, em sua maioria, irremediável sob a chuva forte que castigou o estádio após 20 minutos da apresentação do compositor. Foram quase duas horas de hits encharcados a chuva, suor e saudosismo.
Sir. Elton John sabe, tão bem quanto James Taylor, quem é seu público. Sabe tão bem que o Brasil é um dos poucos lugares em que toca Skyline Pigeon (1969), canção que no resto do mundo sequer roça a fama de seus outros hits, mas nos trópicos é tema clássico de karaokê.
Dono do palco, sentado em seu piano, o cantor repetiu gestos, agradecimentos e canções (sua apresentação de quinta-feira guarda claras semelhanças a que fez no Rock in Rio de 2015), mas também se emocionou verdadeiramente ao ver (e agradecer) o público insistir em ficar o mais perto possível de sua figura mítica debaixo de um toró que só cessou pouco depois do fim da apresentação.
Essa emoção de cima do palco foi experimentada seguidamente por quem estava fora de cena. John concedeu ao público momentos verdadeiros com temas como Candle in the Wind (1973), já no fim do show, Goodbye Yellow Brick Road (1973) e Your Song (1970).
Mas foram seus hits dançantes que fizeram o público não arredar pé, principalmente já ao fim do show ao som de Saturday Night’s Alright (For Fighting) (1973) (um dos melhores momentos do espetáculo) e Crocodile Rock (1973), canções tidas como certas em um show que, embora não promovesse nenhuma surpresa, conseguiu proporcionar emoções verdadeiras.
Enfim, James Taylor e Elton John podem até ter girado no mesmo lugar em shows que, não fossem os dois experientes donos de cena, soariam meramente protocolares. Mas a estrada que percorreram fez toda a diferença para que ambos garantam emoções verdadeiras a um público que, verdade seja, dita, já estava entregue desde a compra do ingresso.