por Bruno Cavalcanti
Céu
Disco/ Show: Tropix
Gravadora: Slap
Local: Teatro Santos Dummont, São Caetano (SP) *
Valor do disco: R$ 24,90 em média
Já é consenso geral entre a crítica especializada: Tropix, o novo disco da cantora Céu, é ótimo. E o consenso geral tem razão. Céu conseguiu superar seus trabalhos anteriores e dar passo adiante na discografia, mesmo sem sair necessariamente do lugar comum de suas estranhezas.
Verdade seja dita, a sonoridade de Tropix soa mais arejada e acessível do que seus dois últimos discos de estúdio, Caravana da Sereia Bloom e Vagarosa, ambos embebidos de flertes com a música eletrônica em voga nas pistas de dança européias.
A faixa que abre o disco é também o single do trabalho, Perfume do Invisível, já dá a pista de que a cantora flerta com o pop mais comercial, mesmo que não abra mão das experimentações. A ótima canção também confirma a evolução de Céu como compositora.
É, inclusive, matador o bloco de três canções que abrem o disco. A supracitada Perfume do Invisível, Arrastar-te-ei e Amor Pixelado, belas canções de amor que subvertem o tema lugar-comum, além de serem fortes candidatas a hits caso caiam na trilha de alguma novela, assim como Minhas Bics, flerte do pop com o baticum dos ritmos nordestinos.
Com a produção dividida entre o baterista Pupillo (da trupe da Nação Zumbi) e o tecladista francês Hervé Salters, Tropix mantém incrível linearidade ao irmanar um quase bolero como Sangria com a surpreendente pérola indie Chico Buarque Song, gravada pelo obscuro grupo paulistano Fellini em seu quarto álbum de estúdio, Amor Louco (1990).
Estão presentes no álbum também desde os vocais de Tulipa Ruiz – no medley que une Etílica a Interlúdio – até a nada usual orquestração de Rapsódia Brasilis, eleita para encerrar o álbum, mas precedida por A Nave Vai (de Jorge Du Peixe, também da trupe da Nação Zumbi), música que explana sobre a insignificância humana em versos simples e metafóricos.
Enfim, Tropix mantém Céu no trono de melhor cantora da sua geração, surgida há 11 anos e que, a cada disco, consegue se transformar e dar um passo adiante, mesmo que jamais se transforme completamente.
O Show
Após estrear com três shows na choperia do Sesc Pompéia, em São Paulo, a turnê de lançamento do álbum Tropix chegou a São Caetano (SP) para única apresentação no Teatro Santos Dumont, com produção do Sesc local.
Antes de qualquer coisa, é preciso afirmar: Céu evoluiu muito em cena. Mais segura e desenvolta, a cantora pouco lembra a imagem que passou durante suas três últimas turnês. Ainda que tenha exorcizado um pouco dos trejeitos desconfortáveis em cena durante a turnê em que dava voz ao repertório do emblemático álbum Catch a Fire, de Bob Marley, a cantora conseguiu ir além.
Solta e dançando com desenvoltura, a cantora iniciou o show já nas alturas com Rapsódia Brasilis, animando o público antes da anticlimática Perfume do Invisível, que funciona mais em disco do que ao vivo. Mas Céu descobriu como cativar o público, que, já na terceira música (Arrastar-te-ei) encontrava-se nas extremidades do teatro atendendo a um desejo da própria cantora: “preferia que vocês não tivessem cadeiras”.
O show transcorreu animado, com uma cantora solta e contando com a cumplicidade do público, principalmente em canções como Comadi, Grains de Beaute e Cangote, unidas em bloco arrebatador que deixou o público livre para se juntar à cantora no coro de Minhas Bics e Varanda Suspensa.
Céu conta com seguidores que não a desamparam, por isso se dá ao luxo de cantar nove das doze músicas que compõem Tropix, num roteiro que irmana as canções de seus dois últimos álbuns de estúdio, Vagarosa e Caravana da Sereia Bloom. Seu álbum de estreia, Céu, é retratado apenas no BIS, quando a compositora apresenta seus dois maiores hits, Lenda e Malemolência, arrebatando um público que, desde o início, sempre esteve na palma da sua mão.
*A coluna conferiu a passagem do show pela cidade de são Caetano a convite da produção do Sesc.
Colaboração: Lívia Donadeli