por Bruno Cavalcanti
Criado pelo americano Chris D’Arienzo e adornado por clássicos do rock da década de 1980, o musical Rock of Ages entrou em cartaz no ano de 2005 em uma Broadway já rejuvenescida pela revolução causada por espetáculos como Rent e Avenida Q e já familiarizada com o clássico rock and roll depois do sucesso We Will Rock You (com clássicos da banda britânica Queen) no Wes End de Londres.
Em 2012, uma história diferente, mas com o mesmo título (e a mesma proposta musical), ganhou as telas e tentou dar a Tom Cruise e a Russell Crowe o título de rock stars. Não conseguiu, mas ao menos trouxe Chaterina Zeta-Jones cantando Pat Benatar – o que já foi um alívio.
Com estreia prevista para hoje, 02 de junho, no Teatro Porto Seguro, em Campos Elíseos, A Era do Rock (Rock of Ages) é a versão brasileira assinada por Ricardo Marques (tradução) e Léo Rommano (direção) com produção da 4ACT Entretenimento, produtora que trouxe ao Brasil espetáculos como Fame e Ghost, que padeceram de escalações ruins ou versões irregulares, comprometendo seu resultado final.
Em A Era do Rock os problemas persistem, mas com um agravante: a dramaturgia original. Paupérrima, a história de um aspirante a rock star (Drew) que se apaixona por uma aspirante a atriz (Sherrie) enquanto trabalham num lendário bar de rock busca a mítica aura dos anos 80 com uma dose quase cômica de sexo, drogas e, claro, rock and roll.
O casal se vê em idas e vindas e, no meio disso, abrem espaço para figuras secundárias que soam mais interessantes, como o gerente do espaço Lonny (Gabriel Bellas, que constrói legítima empatia com a plateia), o dono Dennis (Rodrigo Miallaret, correto), a ativista Regina (Ana Luíza, oscilante) e a dona de um strip-club Justice (Shirley Oliveira, caricata).
Contudo, a despeito do problema de matriz, A Era do Rock sofre com dois pontos críticos em sua versão tupiniquim, que o impedem de superar a (falta de) dramaturgia: a escalação do elenco e a direção.
Muito embora, justiça seja feita, o elenco dê conta sem problemas de toda a demanda vocal e corporal – contentando os fãs do rock oitentista e brilhando durante os 30 números ao longo de (excessivas) mais de duas horas – faltou à direção maior critério na escalação de seus atores.
Formado, como dito anteriormente, por ótimos cantores e bailarinos, o elenco carece de melhores atores que deem conta de segurar a história sem deixa-la monótona. Na pele do mocinho Drew, Diego Montez pouco faz pela personagem, construindo uma interpretação embasada na marcação proposta.
Já Ricardo Marques, como o roqueiro decadente Stacee Jaxx não transmite o sex appeal necessário para dar credibilidade à personagem. Buscando um tom cômico, Diego Martins abusa da caricatura, desperdiçando piadas que estão muito além de sua (boa) expressão corporal.
Contudo, importante dizer, há bons destaques. Thuany Parente constrói uma cativante Sherrie, enquanto Eduardo Leão caminha perigosamente na corda bamba que separa a caricatura da emoção, mas se sai bem.
Mas se há um problema realmente grave em A Era do Rock ele está em seu desenvolvimento. Acometido pelo mesmo mal da versão patropi de We Will Rock You (2016), o espetáculo segue por uma direção de jukebox a fim de dar ao público os hits que conhecem em detrimento do desenvolvimento da história.
Em outras palavras, ou se fala inglês ou se conhece os hits, caso o contrário, a história pode fazer ainda menos sentido.
Aos fãs e saudosos do bom e velho rock and roll produzido na década de 80 entre Estados Unidos e Inglaterra, A Era do Rock será uma viagem aos tempos em que a calça boca de sino estava na moda e a indústria da música pop não era a tal. Mas se essa não é sua tribo, talvez a viagem ao longo de 140 minutos seja um pouco mais trabalhosa.
SERVIÇO:
A Era do Rock
Data: 02 de junho a 30 de julho (sextas, sábados e domingos)
Local: Teatro Porto Seguro – São Paulo (SP)
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos
Horário: 21h (sexta-feira); 17h e 21h (sábado); 17h (domingo)
Preço do ingresso: R$ 60,00 a R$ 120,00