por Bruno Cavalcanti
O abandono, o fim de um relacionamento e os desdobramentos que estes acontecimentos têm na vida de um indivíduo são os motes da tragicomédia Silêncio.doc, primeiro solo autoral de Marcelo Várzea, sob a direção de Márcio Macena, em cartaz no Auditório do Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (MUBE), no Jardins, todas as terças-feiras até 08 de maio.
Na obra, Várzea vive um homem que se depara com o fim repentino de um relacionamento e precisa lidar com a nova vida, se acostumando com a ausência e com o silêncio deixado pela partida. Na obra, o ator entrelaça texto com canção, pescando temas conhecidos do universo da dor de cotovelo, aém de belas canções de amor que ajudam a acentuar os sentimentos vividos após uma dolorosa separação.
Na obra, garante o ator e autor, a personagem é construída através do sentimento comum que costuma assolar indivíduos após o fim repentino de uma separação. O espetáculo, entretanto, não abandona o tom biográfico de seu autor e de amigos e parceiros que o cercam.
“Não é a história de uma separação que eu vivi. É a historia de todas as minhas e dos meus amigos”, pontua Várzea. “Mas o fluxo de pensamento do personagem é bem parecido com meu. Tem minhas separações ali… as de todo mundo, na verdade. Essa dor é tão parecida que a gente acha que as músicas foram feitas pra gente, para quando estamos na fossa”, brinca.
A imagem de um homem sofrendo por amor é significante, de acordo com o autor, indo contra a corrente do discurso do amor não idealizado e da vida imediatista que não permite o sofrimento por um amor que terminou. “É político mostrar o homem romântico em 2018”, acredita.
De acordo com o ator, o tema torna a ligação com a plateia imediata. “O público gargalha e chora. Eu olho muito para eles, direto nos olhos. Divido a história. É comum ver alguém gargalhar com lágrimas nos olhos”, diz.
Embora trate de temas universais e (até) urgentes, Silêncio.doc foi um texto que ficou engavetado por 10 anos. Várzea o escreveu em 2007 e o guardou. Tornou-se figura tarimbada no mundo do teatro musical carioca e paulistano, compondo espetáculos como Rock in Rio – O Musical, Elis – A Musical e O Primeiro Musical a Gente Nunca Esquece.
Fez também algumas participações em séries e minisséries – com destaque para a divertida e sardônica Separação?!, de Fernanda Young e Alexandre Machado –, além de novelas, com destaque, A Lei do Amor, primeira novela de Maria Adelaide Amaral e Vicent Villari para o horário nobre da Rede Globo que prometia um sucesso que não aconteceu.
O texto só viu a luz do dia em 2017, durante mais uma edição do festival Satyrianas, do grupo Os Satyros, na praça Franklin Roosevelt, zona central da capital. “Foi o meu primeiro texto e eu gostava dele. Mas acomo não é, de forma ortodoxa, um texto de teatro e como não preenchia concretamente o beabá da dramaturgia, por respeito à profissão do dramaturgo tinha dúvida da minha pretensão estar em demasia”, conta.
O reencontro com o texto também reabriu o caminho de contato com o teatro de pesquisa autoral e o encorajou a montar o espetáculo. “Uma série de fatores foram abrindo espaços tão largos, apresentando tantas facilidades que foi impossível não fazer. A força do que tem que acontecer é maior que qualquer obstáculo”, diz.
Sem nenhuma alteração no texto, Várzea vê no texto uma dualidade que o diferencia de outros textos do gênero. “É um processo vivido e conhecido por todos. A minha forma de contar essa história é que faz a diferença. É nela que aparece a minha assinatura. Mas se tiver que escolher um viés, apostaria na dualidade emocional que se diverte com sua dor e também a sofre. Dialética pura”, finaliza.
Silêncio.doc segue em cartaz todas as terças-feiras até 08 de maio às 21h no Auditório do Mube, no Jardins (ao lado do Museu da Imagem e do Som – MIS). Os ingressos custam R$ 40,00.