Mas patrono de uma forma, no mínimo, surrealista. E sabem por que?
Porque São Lourenço foi condenado à morte — com martírio — durante a chamada “perseguição de Valeriano, em 258.” E isto pelo seguinte: ele era o primeiro dos sete diáconos da Igreja romana. A sua função era muito importante o que fazia com que, depois do papa, fosse o principal responsável pelas coisas da Igreja. Como diácono, São Lourenço tinha o encargo de assistir o papa nas celebrações; administrava os bens da Igreja, dirigia a construção dos cemitérios, olhava pelos necessitados, pelos órfãos e viúvas. Por isso, foi intimado a comparecer diante do prefeito de Cornelius Saecularis, a fim de prestar contas dos bens e das riquezas que a Igreja possuía.
Pediu, então, um prazo para fazê-lo, dizendo que contaria tudo.
Foram-lhe concedidos três dias. São Lourenço compareceu no terceiro dia e … confessou que a Igreja era muito rica, e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador. E como houvesse feito “o inventário”, foi relatando o nome dos cegos, dos coxos, dos aleijados e de toda sorte de enfermos, crianças e velhos… o prefeito levou o fato ao conhecimento do imperador que, indignado, condenou São lourenço a um suplício especialmente cruel: amarrado sobre uma grelha, foi assado vivo e lentamente.
Em meio dos tormentos mais atrozes, ele conservou o seu “bom humor cristão”. Dizia ao carrasco: vira-me, que deste lado já está bem assado … agora está bom, está bem assado. Podes comer!…
Vejam a força dessa tela de Ticiano
Foi executado quatro dias depois da morte de Sisto II e de seus companheiros. O seu culto remonta ao século IV e a Roma cristã venera o hispano Lourenço com a mesmo veneração e respeito com que honra os primeiros apóstolos. Depois de São Pedro e São Paulo, a festa de São Lourenço é a maior da antiga liturgia romana. O que foi Santo Estêvão em Jerusalém, isso mesmo foi São Lourenço em Roma.
No Brasil a colônia italiana (pelo menos na serra gaúcha) celebra o 10 de agosto como celebra os santos juninos.
Reinaldo Paes Barreto, 65 anos, é enófilo, gourmet, gourmand e um dos fundadores da Confraria dos Amigos da Boa Mesa.