por Bruno Cavalcanti
Santos, 8 de março de 2019
Caras leitoras e leitores,
Vocês provavelmente não me conhecem, perdoem a má educação, mas só vou me apresentar ao final. Agora me atenho a dizer que sou mulher (cis e branca), mãe e artista.
O dia de hoje faz com que eu reflita sobre muitas coisas, entre elas, a minha profissão.
O meu ofício é o Teatro, por mais amplo que isso possa soar. Ali eu vejo o ciclo se repetindo tantas vezes: a história na mão do homem, sendo contada pela perspectiva masculina e nós mulheres como meras coadjuvantes sem subjetividade.
Dia desses fui assistir a uma peça com direção e elenco consagrados, apenas homens. Esse detalhe nem me chamou atenção a priore, fui mesmo para me divertir e “tentar” não problematizar, o que é quase impossível atualmente. Fato é que, o tema político e discussões entre direita e esquerda que tanto me dizem respeito, não incluíam a mim. E era mais do que isso, era desrespeitoso perceber o quanto fazem tão bem e tão naturalmente o que talvez tenham nascido sabendo fazer: nos silenciar diante da História.
A era do monopólio masculino já se encerrou, precisamos ocupar outros espaços que antes nos eram impossíveis.
A incrível dramaturga Dione Carlos nos diz e mostra brilhantemente a importância de incentivar mulheres dramaturgas. É um novo teatro, um novo olhar, uma nova voz.
Na “hierarquia” ainda existente no teatro, o ator é quase um servo, está quase sempre a serviço de uma direção e a serviço de uma dramaturgia. Nesse espaço de “servidão” as mulheres já ocupam seu lugar, temos muitas e muitas atrizes maravilhosas. Mas quando se fala em diretoras e dramaturgas ainda temos um número muito aquém do que seria o ideal. Isso nos revela muito sobre relação de poder e nas mãos de quem ele ainda está.
Esse ciclo precisa ser quebrado. Desde que o mundo é mundo o carregamos nas costas, aliás, chega dessa coisa de carregar o mundo nas costas, o mundo somos nós!
Meu nome é Letícia Tavares Homem (em foto de Bruna Quevedo), atriz, dramaturga e diretora de Não Ela – Experimento Vênus Pudica!