Salto alto é um problema: primeiro, porque exige muita elegância a atitude no andar; depois porque, qualquer descuido, pode ser fatal – dores na coluna, dor nos pés, sensação de instabilidade, varizes e, horror dos horrores, tombos. Quedas. Entorses. Fraturas. Dependendo do tombo, pode até causar morte, cruzes! Obviamente, que esses males só chegam para o pessoal da terceira idade. As mocinhas de hoje não sabem andar de salto. Mas isso já é uma outra história.
É por essas e por outras que já encomendei a minha coleção de verão de rasteiras ( sem trocadilho, please) e sapatilhas. Tênis só para ginástica – e cara alegre. Tênis é muito confortável, mas é um horror. Não há elegância possível a bordo de um tênis, seja ele qual for e de que marca for. As rasteiras e as sapatilhas atarracam a figura, mas são confortáveis. Além do mais, não me passa pela cabeça usar os modelitos Dr. Scholl, que têm salto ortopédico e, pra mim, seriam ótimos nos pés da Nanny MacPhearson ou da Mary Poppins. Pensando bem, para campanhas devem ter boa serventia.
Outro problema é a bolsa. Andar sem bolsa é muito esquisito, né não? É um perigo andar de bolsa nas ruas do Rio, por exemplo, agora que a bandidagem voltou às ruas com aquela aisance do tempos dos garotinhos ( com caixa-baixa, por favor). Bolsa pesa no ombro se está a tiracolo, pesa na mão – mesmo se for uma daquelas lindas Kelly do Hermès, incomoda para levar, se for uma carteira. Tem coisa mais incômoda do que carteira em coquetel? A gente não sabe se toma o champã, se segura a miniporção da vez, se bota a dita carteira debaixo do sovaco, ui! É uma palavra feia da língua portuguesa, esse tal de sovaco. Mas palavras feias devem ter rolado na terra dos saltos altésimos e daquelas moças que não usam mais bolsa pra trabalhar. Faço uma ideia!
Bolsa, lá na terra do poder, ficou démodée. Será que é receio do duplo sentido? Ou será que é brega usar bolsa da indústria nacional?
De todo modo, é muito esquisito uma mulher sem bolsa. Fica pela metade, eu acho. Mulher sem bolsa tem que ter maquiador e cabeleireiro a postos. As mulheres com bolsa sempre têm sua bolsinha de maquiagem, que muitas vezes tem mais importância do que a carteira de dinheiro, escova de cabelo, de dentes. Uma amiga exagerada até aparelho de barbear leva na bolsa: “Vai que aquele gato me chama pra sair e eu estou com as pernas cabeludas? Entro no primeiro banheiro e raspo rapidinho”
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Não andar de bolsa, vá lá. Descer do salto: eis a questão. Quando a batalha termina, naquela hora abençoada de botar a cabeça no travesseiro e dormir com a serenidade de uma Marina Silva, todas as mulheres do mundo descem do salto no maior alívio.
E, quando acordam, enfiam a rasteirinha no pé alegremente. Porque sabem o quanto custa um salto alto. E todos os males que ele pode causar – no presente e no futuro.