Noves fora o fato de sermos da mesma geração, não tenho nada a ver com a candidata Dilma Rousseff, A Favorita, como costumo brincar. Minha apagada atuação no movimento estudantil não pode ser comparada à corajosa guerrilheira que pegou em armas. Tenho certa tendência a ser autoritária, mas, apesar de não conhecer Dona Dilma pessoalmente, acredito não chegar aos pés da ex-ministra-chefe, que, dizem, já fez muito marmanjo chorar. Sou perfeccionista, também, e os erros dos outros me desesperam. Contudo, acredito mais na eficiência da bronca com brandura e paciência do que no esporro de fazer chorar. E fazer odiar.
Agora, no entanto, A Favorita e eu temos a melhor das coisas em comum: um neto, ela, e eu, minha Bela Antonia, que não para de me ensinar. Que a vida é bela, que o amor existe, que a felicidade pode se resumir ao cineminha com a neta que cresce, cresce, e daqui a pouco já não vai mais querer saber de programas com a vovó. É da vida.
Escrevo cercada pelas amorosas lembranças que ela faz para mim: na parede, os primeiros desenhos, rabiscos coloridos do nada; no quadro de avisos, ao lado da foto dela tomando banho aos 3 anos, uma já mais sofisticada colagem; a tábua mágica que comprei para me lembrar dos compromissos do dia perdeu sua função: nela, com as letras tortas e o português capenga, um “Tiamo Vovó” tão sincero e comovedor! No iPad, última novidade que fez delirar a pequena, as marcas dos seus dedinhos, que inteligentemente mexem em tudo, acham os joguinhos, dão um ar mais feminino ao tablet da vovó, que não tem todas essas habilidades cibernéticas. Aliás, a vovó aqui é gaga das mãos, um desastre para atividades mais delicadas. Fiquei até com uma certa inveja da Dilma, quando ela disse que trocara as fraldas do Gabriel, porque tem mais experiência do que a filha. Minha nora sempre ficava um pouco escabriada quando eu me oferecia para trocar as fraldas da pequena – até pra isso tenho incompatibilidade manual.
Pensando nisso tudo, e em toda a ternura que minha Bela Antonia sempre desperta em mim, fiquei com pena da Favorita. Se tudo correr como indicam as pesquisas, e mais nenhuma Erenice atravessar o seu caminho, Dilma passará de Favorita a Presidente. Ou Presidenta? Acho que ela prefere Presidenta. Por mais que o AeroDilma esteja sempre a postos, ela estará no mínimo em Brasília, no máximo na Tanzânia, e o pequeno Gabriel, com nome de anjo, a léguas, lá em Porto Alegre, quietinho, porque já deu pra sentir que os pais do menino são low profile (graças ao Bom Pai!). A Favorita vai perder tanta coisa, tantas gracinhas, tanto chamego!
Será que vale a pena? Tanto poder, tanto puxa-saco em vigília (estes já estão desde agora), tanto rapapé, tanta falsidade, tanta rasteira, tanta denúncia, tanta aporrinhola!
Este tal de poder deve ser um barato mesmo. Em todos os sentidos. Mas passa rápido. E, quando passa, imagino, que todos olhem pra trás e lamentem o tanto que perderam da vida de seus filhos, de seus netos. Homem não dá muita bola pra isso. Dilma é mulher, é mãe, e, agora, avó.
Vai preferir encarar a oposição, as chateações, as denúncias, as inevitáveis comparações com o Lula à doçura de viver seu papel de vovó? Parece que sim.
É uma pena. E, o pior, é que, um dia, ela ainda vai se arrepender do tanto que perdeu. Palavra de avó.