por Reinaldo Paes Barreto
O atual patron de uma das mais célebres vinícolas do champagne — Pierre-Emmanuel Taittinger – (uma das minhas preferidas, aliás), concedeu interessante entrevista à Revista do Vinho da França (La Revue du Vin de France), há tempos, dizendo-se radicalmente contra a pontuação dos vinhos.

mais francês impossível
Ele argumenta que assim como ninguém ousaria dar nota aos grandes pintores ou aos grandes compositores, ou poetas — quem poderia atribuir 10/10 a Beethoven e 9/10 a Mozart? Ou 9,5 a Manuel Bandeira e 8,9 a Drummond? — o mesmo princípio deveria servir para (não) se atribuir pontos aos vinhos (tranquilos ou espumantes), já que alguns deles também são obras de arte.
Bandeira e DrummondE mais: uma obra de arte não pode ser classificada fora do seu contexto. Segundo ele, a pontuação para um vinho — para ser justa — teria que compreender não apenas o vinho em si, mais a companhia com a qual ele foi compartilhado, o ambiente em que foi degustado e as circunstâncias em que foi servido (numa festa? numa degustação tête-à-tête? à tarde? de madrugada? Na temperatura correta?), além de sabermos o preço (ou foi presente?), o impacto do rótulo daquela sagra, etc.
Mas mesmo sem dar nota (“’ca va sans dire”!) vejamos a Maison Taittinger. Fundada em 1734 é sem dúvida uma das casas de champagne mais respeitadas em qualquer adega do planeta. Os seus 280 hectares de vinhedos localizados nas melhores áreas da região de Champagne garantem um fornecimento regular de uvas de alta qualidade para a sua produção. Até porque todas elas são plantadas e colhidas no terroir da propriedade.
E, hoje, as suas caves são o que há de mais avançado em tecnologia de conservação. Já o produto somente é produzido quando a safra e a colheita são excepcionais. O Milésimé 2004, por exemplo, é uma mistura exclusivamente da primeira prensagem, sendo 50% da chardonnay dos “Grand Crus” de Cotê des Blancs e 50% de Pinot Noir dos “Grand Crus” da Montagne de Reims e do início do Vallée de La Marne.
Em termos de imagem, este champagne sempre associou a sua marca à sensualidade da mulher, ao prazer do encontro, e à alegria de viver, em suma, como mostra essa criativa campanha publicitária, lançada ainda nos anos sessenta. (Hoje provavelmente condenada pelos ”socialmente corretos” mais radicais).
Será que os “Robert Parkers” da vida vão querer pontuar essa mulher também?