por Rogeria Gomes
Precisamos ler o mundo, nos diz Paulo Freire. No dia que comemoramos a cultura, esse pensamento faz todo sentido. Ela vai além da educação formal que nos ensina a ler e escrever, a cultura nos ensina a enxergar. Enxergar o que? De primeira, o mundo que nos rodeia. Abre horizontes e fronteiras inimagináveis. Talvez por isso seja tão temida por alguns.
O que é cultura? Não há uma explicação só por que não é única. Mas, sem dúvida é um marco civilizatório. A partir do sec. XX, dos pensamentos iluministas, estudiosos confirmam o sentido universal da cultura, a soma dos saberes, desassociado das primeiras impressões de individualidade, datadas do sec. XVIII. Sendo assim é um bem maior da humanidade. Agrupa significados e valores, atividades artísticas e não se descola de ser um instrumento político e social. Seu caráter é transversal, múltiplo e plural. Acontece em qualquer lugar, do mais cosmopolita ao mais longínquo rincão de um país. Um feixe de luz para a humanidade.
No dia que celebramos a cultura trazemos a memória o que vivemos. O que a cultura tem sido para nós nos últimos tempos? Sem dúvida, um refrigério, apesar do lugar que a estão colocando nos últimos tempos. A despeito da pandemia, já vem de muito sofrendo descaso, desleixo por quem também deveria fazer o papel de fomentar e ajudar a roda a girar. Mas arista é bicho perseverante, feito de um material diferente. Lida com o sensível, com o lúdico, com a beleza, o que certamente os impulsiona a não desistir. Só por isso, comemorar esse dia já vale. Mas não é feita só por artistas. É patrimônio de todo ser humano, que se transforma do individual ao saber coletivo. Essa é a beleza da cultura. Nesse dia a ela dedicado, resta-nos celebrar tudo que construímos até aqui. Esse saber diverso produzido cotidianamente que reverbera independente do momento e que nos traz a capacidade de enfretamento, de esperança de vivermos dias melhores e nos orgulhar do que temos produzido. Somos gigantes no teatro, no cinema, nas festas populares, no artesanato, nas artes plásticas, na música, na arte popular, enfim em todas as suas manifestações fazemos acontecer.
Vamos celebrar esse dia com esperança, aquela do verbo esperançar, com alegria por que cultura é a tradução de alegria, com fé, por que essa é que move o impossível, com potência, por que nos representa, com perseverança por que nos move. Cultura é tudo que você imagina, realiza, sonha, projeta e ajuda a transformar realidades. Ela não morrerá. É forte, robusta, resistente, perseverante, luminosa. E coroando a data, especialmente hoje, temos essa tal esperança soprando a nosso favor, uma de nossas mais expressivas representantes, Fernanda Montenegro, integra a membresia da Academia Brasileira de Letras. Então, como nos ensina Capitu: ‘ é pecado sonhar? Não Capitu, nunca foi. Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos? Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando ao invés de fazer acontecer”. Vamos continuar fazendo acontecer. Viva a cultura!