por Paulo Roberto Direito
Um estado, que não sabe nem o que é o conceito de estado em si, tem políticas culturais sem saber o que é cultura.
Portanto, sem conceituarmos o que é o estado, como é que nós vamos conceituar política do estado. Nesse caso o estado é apenas um espaço de preservação do poder e não do exercício da equanimidade. Então se você organiza a sociedade a partir de um estado que não se conceitua adequadamente, esse estado se torna um mero instrumento de poder. E por via de consequência ele vai orientar políticas públicas no sentido de privilegiar aquelas classes que respondem à manutenção do poder.
Nesse sentido, a cultura como produção do simbólico é que poderá orientar uma política pública permanente, na medida que a produção do simbólico, que está ligado a produção do espírito, vai nutrir o imaginário e que vai portanto lastrear a cultura, o que seja a cultura , o que seja criação, o que seja sobretudo valores.
E na medida de que ao transmitir os conceitos de cultura, estamos transmitindo os valores, os princípios inarredáveis. E nesse sentido usamos a visão da antropologia que é a visão antropocêntrica, ou seja a de colocar o homem como o centro de toda ação política.
No caso da educação esse poder hegemônico se dirige da mesma forma, ou seja, a educação é excludente porque é a reprodução de uma transmissão de saber destinada ao poder hegemônico, ao saber hegemônico.
O que se verificou no pós-guerra é que a orientação da educação no Brasil escapou da visão européia, para submeter-se ao modelo americano, ou seja as mudanças dos paradigmas internacionais desloca o papel da universidade para a visão pragmática, em detrimento da ciência do homem, das ciências sociais e obviamente em prejuízo da formação do pensamento. Desta maneira, o que se verificou, foi uma proliferação de cursos rápidos e objetivos que viraram modelos para a formação de mão de obra, que dizer de formação técnica, primária de respostas imediatas. Assim a universidade brasileira perdeu o seu papel, o seu compromisso com as funções fundamentais em relação a formação do homem, do cidadão e do profissional, se preocupando em adestrá-lo adequadamente para que ele se encaixa na engrenagem da produção, estando nesse caso a universidade a reboque do mercado sobre ao qual ela não tem controle e sequer participa.
O que fazer para reverter esse quadro?
Aqui eu gostaria de usar um pleonasmo como forma de radicalizar ou enfatizar essa questão. Trata-se de humanizar o homem, por que a situação que vivemos hoje é da animalização do homem, da desumanização do homem. Urge então um processo de reversão que possibilite a humanização do homem. Eu diria uma volta as fontes do humano. E se não conseguirmos essa reversão, ou seja se continuarmos nesse processo iremos nos transformar em algo que é a negação do humano, a negação do sensível, ou seja, a desconstrução do plano espiritual.
Desta maneira o homem estará perdendo uma característica fundamental, que é da sua sensibilidade e dos valores do espírito. E essa responsabilidade de reversão desse quadro está a cargo da cultura.
Perdendo a produção do simbólico, nossa vida se reduz à materialidade de um cotidiano, de um ímpeto consumista intransitivo, rasteiro e extenuante, ficando por via de consequência, a nossa dimensão espiritual subvalorizada
O que precisamos fazer, através de uma política pública permanente, é rever urgentemente o papel da escola, o papel da formação.
Portanto, é preciso que a escola se ajuste a essa nova necessidade, que introduza a preocupação com as questões do simbólico, da produção do espírito e não somente com aquele ensino sistemático, aquele quadro pobre, que não faz com que a criança avance para o espírito.
Paulo Roberto Direito – Diretor da Radice Produções Culturais e Membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ