por Bruno Cavalcanti
Primeira premiação interestadual do teatro musical brasileiro, o Prêmio Reverência (em foto de Caio Galucci) realizou, na noite de terça-feira, 13, sua quarta edição – a segunda na cidade de São Paulo. Sediada no Teatro Alfa, zona sul da cidade, a premiação laureou produções que entraram em cartaz entre o final de 2017 e ao longo de 2018 no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Criado pela produtora e empresária Antônia Prado, o evento conseguiu se consolidar como um dos mais importantes do gênero. Muito do título se deve a comissão julgadora (uma das mais criteriosas do mercado) formada por jornalistas, produtores, atores, dramaturgos e profissionais da equipe técnica, e também por fugir do lugar comum, não laureando apenas a obviedade do mainstream musical – para isso se criou a categoria “voto popular”.
Apresentado por Tiago Abravanel, um excelente mestre de cerimônias, o prêmio conseguiu uma proeza bastante rara em festas e eventos do gênero: fugiu da monotonia. Ainda que seguindo a risca um roteiro previamente estabelecido, Abravanel conseguiu imprimir graça e espontaneidade durante mais de duas horas de festa.
Sem fugir da estrutura óbvia de números musicais dos espetáculos indicados, intercalados pela entrega dos prêmios e um ou outro convidado especial, o prêmio escolheu subverter justamente onde o risco seria maior: na escolha dos vencedores.
É inegável que, ao ser realizado em São Paulo, o evento abrigaria uma torcida em prol de espetáculos que fizeram carreira na cidade. Na lista de favoritos estavam o blockbuster O Fantasma da Ópera (04 indicações), o clássico Cantando na Chuva (12 indicações) e o jovem Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812 (11 indicações).
Contudo, foram produções que estrearam no Rio de Janeiro que levaram a melhor. Foi, por exemplo, uma surpresa a vitória de André Dias por seu (excelente) desempenho em Se meu Apartamento Falasse, de Charles Möeller e Cláudio Botelho, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, desbancando o favorito Fred Silveira por sua (também excelente) performance em O Fantasma da Ópera.
Também foi fora da curva a escolha de Vinicius Calderoni na categoria Melhor Autor por seu trabalho em Elza, desbancando Arthur Xexéo e Luana Guimarães, indicados por Bibi, Uma Vida em Musical, e Vitor Rocha, indicado por Cargas D’Água. Com a principal torcida na noite, o jovem autor era uma aposta como a revelação do prêmio.
Elza, inclusive, levou quatro das seis categorias principais, se notabilizando como o grande vencedor da noite e também o melhor número musical. Com um elenco encabeçado por Larissa Luz, a produção apresentou revigorante performance de A Carne, canção de Seu Jorge que Elza Soares tomou pra si em 2001 e que ajudou a ressignificar a discussão racial na música popular. O número foi o único aplaudido de pé.
Com viés claramente político, em diversos momentos a premiação abriu espaço para manifestações que tomaram as redes sociais, como a de “ninguém solta a mão de ninguém” e sublinhando o caráter de resistência não apenas do prêmio como de alguns dos espetáculos indicados.
Sem mencionar o nome do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro, foi nítido o posicionamento contrário às políticas propostas pelo candidato, principalmente na interação de números como o supracitado A Carne, no discurso do diretor Zé Henrique de Paula, vitorioso na categoria Melhor Musical em Voto Popular com Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812, no agradecimento de Amanda Acosta – confirmando seu favoritismo na categoria Melhor Atriz por seu espetacular desempenho em Bibi, Uma Vida em Musical – e no discurso final proferido por Abravanel antes de convidar à cena as cantoras Karin Hils, Aline Wirley e Gloria Groove para interpretar a versão em português de You Can’t Stop the Beat, do musical “Hairspray”.
Foi um recado claro da premiação e da classe artística que, em peso, aderiu a movimentos que se opunham ao discurso de Jair Bolsonaro, muito diferente da última premiação sediada em São Paulo, em 2016, quando o iluminador Paulo César Medeiros foi vaiado em cena aberta ao se colocar contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O viés de resistência que tomou conta do prêmio foi também representado pela maior vitória da noite, dando ao musical Elza o prêmio de Melhor Musical, desbancando as supracitadas grandes produções favoritas, como O Fantasma da Ópera, Cantando na Chuva e Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812.
Laureado também com quatro prêmios, mas na categoria técnica, Romeu & Julieta ao Som de Marisa Monte levou pra casa as honrarias de Melhor Iluminação, para o trabalho em conjunto de Monique Gardenberg e Adriana Ortiz, Melhor Cenário, para o trabalho de Daniela Thomas e Melhor Figurino para João Pimenta, todos estranhos no ninho no universo dos musicais, mas com extenso currículo no mercado do teatro convencional. Carlos Esteves, na categoria de Melhor Design de Som encerra a lista.
Confira abaixo a lista completa de vencedores da premiação:
Melhor Ator Coadjuvante
André Dias por ‘Se Meu Apartamento Falasse’
Melhor Atriz Coadjuvante
Claudia Raia por ‘Cantando na Chuva’
Melhor Autor
Vinicius Calderoni por ‘Elza’
Melhor Coreografia
Kátia Barros e Chris Matallo por ‘Cantando na Chuva’
Melhor Cenário
Daniela Thomas por ‘Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte’
Melhor Figurino
João Pimenta por ‘Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte’
Melhor Design de Som
Carlos Esteves por ‘Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte’
Melhor Direção Musical
Tony Lucchesi por ‘Bibi, Uma Vida em Musical’
Categoria Especial
Letieres Leite pelos arranjos de “Elza’
Melhor Iluminação
Monique Gardenberg e Adriana Ortiz por ‘Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte’
Melhor Espetáculo por Voto Popular:
Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812
Melhor Ensemble
Peter Pan, O musical da Broadway
Melhor Direção
Duda Maia por ‘Elza’
Melhor Ator
Mateus Ribeiro por ‘Peter Pan, O musical da Broadway’
Melhor Atriz
Amanda Acosta por “Bibi, Uma Vida em Musical’
Melhor Espetáculo
Elza