por Angela Dutra de Menezes
Acho que o Sr. Lula da Silva pensou que fazia um negócio da China quando decidiu eleger o seu poste – ele mesmo a chama assim – predileto. Convicto de que dona Dilma era incapaz de administrar o canhoto do próprio talão de cheques (e é mesmo, há alguns anos ela conseguiu falir uma lojinha de badulaques de R$ 1,99), Lula convenceu o eleitorado bolsista que madame era A gerentona anticorrupção. Com a sua tradicional mira certeira, apostou na confusão. Fácil, fácil: em 2014, apenas acenaria ao povo e voltaria com pompas e glórias, outra vez saudado como o digníssimo salvador da pátria.
Vamos combinar, ele foi ousado. Arriscou demais. Olhou apenas para o próprio umbigo e não avaliou corretamente a fantástica e extraordinária incompetência de dona Dilma, que acredita que governar o país é dar berros, socar a mesa e balbuciar incoerências. Pessoalmente, desconfio que a madame sofre de dislexia. Mas isso não importa agora. Importa que, para surpresa até do seu padrinho, a presidente acabou com o Brasil. Quem a substituir, coitado(a), herdará um fardo ingovernável. Economia estraçalhada, programas de governo destroçados, inflação descontrolada e, pior de tudo, noções de cidadania e dignidade destruídas. Olhando para cima, para as otoridades que perderam qualquer resquício de vergonha e se esbaldam desviando bilhões de dólares – eu disse bilhões -, o povo resolveu acreditar que, impossibilitado de também se locupletar, restava-lhe o consolo da bagunça e da indisciplina, palavra que arrepia os politicamente corretos. Só que, nesta vida, ninguém consegue nada sem a famosa disciplina. Sorry, respeitáveis senhores e senhoras que acreditam em Papai-Noel, mas, desse jeito, não iremos muito longe. Falando na linguagem peculiar de Lula: quem acredita que o Felipão treina a seleção brasileira de futebol no vai da valsa está redondamente enganado. Felipão usa mão de ferro e o time vence porque, antes de tudo, é disciplinadíssimo. Mas, enfim, deixemos rolar. Afinal, sempre resta a esperança da instituição do Controle Social da Mídia, metáfora para a velha censura. Assim, Deo Gratias, ninguém descobrirá o tamanho da lambança.
O Brasil transformou-se numa lastimável sucessão de ausência de valores. Absolutamente sem liderança – livre, leve e solto no pasto -, o país mordeu os freios. Ninguém respeita nada, sequer a suposta mais alta autoridade da República. Não irei desfiar o rosário de escândalos que, de tão grandes, já nem nos escandalizam mais. Detenho-me nos mais recentes. Ao menos, aos mais recentes que vieram a público. A refinaria de Pasadena; a Abreu e Lima; o desvio de toneladas de dinheiro da Petrobrás; a ousadia do MST, apadrinhado pelo Sr. Gilberto Carvalho; as invasões profissionais de áreas urbanas; o sumiço dos Amarildos; o deboche de bandidos cercando policiais na maior favela brasileira; uma cidadã quase morta arrastada pelas ruas; o senador Suplicy participando de evento público onde a nossa bandeira, sob aplausos, foi queimada; o professor de filosofia que definiu a Valesca Popozuda (nada contra a moça, apenas contra a mediocridade) como “pensadora contemporânea”, o chefe do tal professor que, para defendê-lo, comparou a funkeira ao grego Sócrates (juro, é verdade); o vice-presidente da Câmara – ladrão picareta – que se sentiu no direito de agredir publicamente o presidente do Supremo Tribunal Federal e vai por aí a fora. Meu Brasil acabou. A falta de chefia, o vale tudo, a ignorância esgarçou de tal forma o tecido social que não há mais cerzideira que conserte. Temos que fechar para balanço e recomeçar do zero.
E por hoje é só. Vou até à esquina me enforcar. Ou será melhor voltarmos às ruas e, em imensas manifestações, revelarmos o nosso desagrado, a nossa desilusão?
Acho que prefiro a segunda hipótese. Talvez ainda possamos resgatar tudo que foi perdido, tudo que nos retiraram nestes anos de desgoverno, maracutaias, falta de cultura, de respeito e de vergonha.
Sigam-me os que forem brasileiros…
Angela Dutra de Menezes é escritora e jornalista