por Aristóteles Drummond
Ana Maria falou dos dez anos da morte do diretor de O Globo Evandro Carlos de Andrade. Lembro os dez, em outubro, da partida de Roberto Campos, que valia uma edição de O Globo com seus artigos sobre economia, política internacional. Roberto Campos estava naquela página pelos bons ofícios de seu amigo, o Roberto Marinho, que o estimava e admirava. E com quem tinha afinidades no campo do pensar o Brasil e o mundo.Tenho a impressão que o Evandro preferia ter naquele espaço o Celso Furtado ou a Maria da Conceição Tavares.
Estamos na semana zero da perda de Itamar Franco, o nosso Van Gogh , que só teve seu valor reconhecido depois de morto . Ou a nossa Inês de Castro – ela foi rainha e ele grande Presidente depois de mortos. Fiquei bem impressionado com a sinceridade do FHC em sua emoção no enterro. Afinal, FHC estava em dúvida se concorria a deputado federal em 94 , de vez que não tinha chance na reeleição de Senador e foi alçado por Itamar à Presidência da República . Depois, foi conivente com o deboche em relação a seu criador, que efetivamente não era um intelectual. Era homem simples, correto, mas dotado de grande intuição e inteligência.
Estas datas redondas são boas para se lembrar da figuras que passaram em nossas vidas. Muitos esquecem. Nunca foi o meu caso. Recordo a cada dia os amigos de mocidade que se foram prematuramente – Manduca Lins, Henrique Kerti, Dionísio Taunay – os chefes que admirei e com quem aprendi – Negrão, César Cals, José Hugo Castelo Branco – os mestres no jornalismo – Heron Domingues, Paulo Vial Correa – figuras exemplares, inclusive na bondade e na retidão.
O tempo vai separando o joio do trigo. Ana, bom caráter, escreveu esta linda crônica. Nada deveu a Evandro, pois nestes dez anos só fez crescer, mas outros tantos nem devem ter ido à missa.
Há semanas, em BH, emocionei-me com o relato de que Itamar estava no fim . Seriam semanas. Meu interlocutor, mais velho do que eu uns dez anos, triste também, lembrou que todos nós devemos nos conformar com a finitude . A dos outros, como a nossa …
Por isso devemos fazer o que gostamos, com quem gostamos e onde gostamos. Devemos procurar servir ao próximo, sejam eles próximos de nós ou não . E ter em mente que nada vai nos ajudar no futuro se formarmos na escola da agressão, da grosseria e da ingratidão. .No final seremos como a caveira do portão do Cemitério do Caju : eu fui como tu és , tu serás como eu sou .