por Lu Catoira
Lendo os originais do livro “Da Semente à Paisagem”, recém lançado pela editora Dialética, do arquiteto paisagista, Fabio Bei, achei interessante a identificação que a paisagem tem com a moda. Ela conta histórias, nos emociona ou entristece com sua aparência e sofre mutações de acordo com as “tendências” de cada época.
Muitos ambientes naturais representam ciclos e deixam seus enredos marcados nos recortes dos canteiros, nas formas das árvores, na escolha das flores.
Fabio define a paisagem como poderíamos definir a moda: “como tudo o que se vê sob determinado ângulo de visão. Mas também é tudo que se sente, que se escuta, que se olha e se toca. A cultura e a história estão na linha da percepção em que podemos entender a formação da paisagem através delas.” Então, numa linguagem poética, um projeto de paisagismo pode ser comparado a um projeto de coleção, onde cada elemento vai contribuir para a criação final. De um lado o olhar para a arquitetura paisagística e de outro para a arquitetura do corpo.
Num paralelo com a moda e lançando um olhar nos marcantes e importantes jardins construídos em diferentes locais, encontramos a influência da cultura renascentista no estilo, como no jardim francês, por exemplo. A moda ganhou sedas, brocados, novos tingimentos, perfumes e joias – um luxo que chegou ao jardim da monarquia absolutista (do Rei Sol, Luiz XIV) da França no século XVII, traduzido em formas geométricas e simetria perfeita, com ares de grandiosidade e uma extensão verde e viva das edificações.
A moda renascentista italiana era menos rebuscada, com tecidos luxuosos e joalheria elegante. Os jardins italianos, por sua vez, incorporaram o contexto clássico num clima romântico, com estátuas de deuses e fontes, cercas vivas, vasos cerâmicos, treliças, arcos, pontes, bancos e até árvores frutíferas. Já a moda inglesa era menos graciosa e o jardim inglês, derrubou os parâmetros do estilo renascentista, tornando-se mais romântico e preservando a sinuosidade e o livre desenvolvimento das plantas, sem interferir na natureza.
Partindo para um novo parâmetro, o jardim japonês está ligado à busca pela espiritualidade. É um espaço de relaxamento e meditação, com água, relva, ponte, fontes e peixes. Na moda, o Kimono foi a veste tradicional até meados do século XIX, com uma arte própria de vestir e caminhar em pequenos passos e silenciosamente.
Época de samambaias, avencas, suculentas, jardins verticais
Voltando aos centros urbanos – com elementos da arquitetura – ou estando numa área rural, paramos para observar o que está a nossa volta e vamos descobrir sons, cheiros e a harmonia das linhas e cores que valorizam e aconchegam o ambiente da natureza.
Por outro lado, Fabio também mostra a degradação dos terrenos usados na mineração, ou como depósito de lixo e que se tornaram áridas e poluídas pela ação humana, e como esses espaços podem ser reurbanizados, utilizando a vegetação e mobiliários corretos na sua transformação em área de lazer.
E novamente podemos falar de modismo de plantas. A natureza repetidamente foi
tema marcante na arte (esculturas, pinturas, tapeçarias) e no vestir, em tecidos com estampas, bordados, aplicações, em montagens de joias e bijuterias.
Na época dos hippies (década 1960), o girassol foi a flor escolhida para representar a liberdade. A partir 1970, as samambaias e avencas não podiam faltar nos terraços, varandas e até penduradas dentro de casa, como ítens de decoração. Também era moda os ramos da batata doce que brotava em potes de água. Hoje não existem mais essas febres. Mas, os vasinhos de violetas que necessitam de cuidados, foram trocados por cactos e suculentas que também têm a sua beleza, mas são mais “independentes”.
E o que dizer dos jardins tropicais dentro de apartamentos e jardins verticais que embelezam fachadas de prédios ou hortas nas coberturas de edifícios? Novo modismo? A natureza e a moda agradecem.