por Lu Catoira
A grande maioria das lojas dos shoppings centers, são pontos de vendas de roupas e acessórios. É impressionante ver a quantidade de peças expostas em vitrines, araras, prateleiras. Tudo programado – da ideia ao design, da fibra à confecção, passando por etapas diversas – para passar às mãos do consumidor. Mas e o descarte dessas peças?
Só na fabricação, a indústria da moda deve movimentar US$ 3,3 trilhões até 2030 – em um crescimento entre 4% e 5% a cada ano – com a fabricação de 102 milhões de toneladas de roupas e acessórios. Isso deveria ser uma ótima notícia, mas, esse peso equivale a meio milhão de baleias azuis, como foi publicado na Revista Época em maio. Altamente poluente, o setor emite anualmente um bilhão de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera!
O que assusta é que os investimentos de implementação na área sustentável desaceleraram, segundo o índice Pulse Index, que estima as metas de sustentabilidade das marcas de moda. E eu pergunto mais: como utilizar o descarte das peças de forma sustentável?
Nos anima muito quando recebemos a informação que a Nike garante que passará a utilizar apenas a energia renovável até o final deste ano, ou que algumas fábricas de jeans implantaram sistemas para o reaproveitamento de água. Mas é triste ver que a indústria de moda está longe de ser sustentável, como está nos estudos das organizações Global Fashion Agenda, Sustainable Apparel Coalition e a consultoria Boston Consulting Group, que estimam que menos de 40% da empresas estão repensando sua cadeia produtiva e que algumas poucas mudanças estão acontecendo somente nas empresas de pequeno e médio portes.
As empresas devem avaliar suas linhas de produção, desenvolver pesquisa de novos materiais mais sustentáveis e compartilhar soluções. Tudo isso é muito difícil, pois são investimentos altos, que refletem no preço final do produto. O consumidor também tem um importante papel a desempenhar. Ainda que pesquisas indiquem que 38% de três mil consumidores consultados em todo o mundo dizem trocar sua marca preferida por outra que adota práticas ambientais ou sociais positivas, sabemos que eles pagaram caro por essa escolha.
A especialista em sustentabilidade e consumo consciente, Chiara Gadaleta, fundadora do Movimento Ecoera, afirma: “Queremos que cada um se torne ‘guardião’ da causa, e passe a mudar comportamentos e políticas.” Ainda de acordo com ela, o movimento tem como meta reunir empresas, consumidores, instituições e governo para discutir as mudanças que precisam ser feitas no consumo e na produção de moda, a fim de chegar a um modelo mais sustentável.
E outras ações estão surgindo, como o internacional Fashion Revolution, um movimento global sem fins lucrativos com equipes em mais de cem países ao redor do mundo, que faz campanha pela reforma sistêmica da indústria da moda. Seus objetivos são a conscientização sobre os impactos sócioambientais do setor, celebrar as pessoas por trás das roupas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.
Em abril a Semana Fashion Revolution se concentrou em destacar os trabalhadores da cadeia de fornecimento da moda. Centenas de milhares de pessoas usaram a hashtag #QuemFezMinhasRoupas ao redor do mundo para pedir maior transparência da indústria. Milhares de marcas compartilharam detalhes sobre as instalações e pessoas que fazem suas roupas.
Já existem projetos, intenções e plataformas de engajamento. Falta a ação que inclua o sistema da moda e políticas governamentais imediatas que, inclusive, abranjam as peças descartáveis!