por Elda Priami
Você encontra em dois novíssimos restaurantes cariocas, a sensação gostosa de estar em uma casa com ambiente elegante e despojado. De frente para o mar de Ipanema, Casa Vieira Souto, desde janeiro. De frente para o Jardim Botânico, Puro, inaugurado em abril. Ambos se instalaram em sobrados dos anos 40, prestigiam a culinária brasileira contemporânea, que opta por produtos e vinhos orgânicos. Ou seja, mentalidade mais moderna impossível. Só poderiam conquistar paladares refinados.
Ao entrar no Casa Vieira Souto sente-se nos três ambientes a leveza que caracteriza os projetos de Bel Lobo. Em poucos meses, o lugar se consagrou. O anfitrião, Alexandre Lalas, um expert em vinhos biodinâmicos, te envolve com conhecimento e despretensão. No Wine Club, segundo piso, ele mostra nas quatro Enomatics os melhores vinhos naturais. Deguste o Asinoi, Barbera D´Asti, por exemplo. No térreo, a Champanheria é o cantinho para quem aprecia um espumante acompanhado de petiscos. Irresistíveis as linguicinhas com melaço e gergelim. No salão, a chef Luciana Plaas transforma receitas simples em encontros de texturas, temperos e sabores personalizados. Ela sabe despertar desejos. Tem coisa melhor? O lombo de bacalhau com húmus e tapenade e a rabada desfiada com polenta de trigo taragna e agrião provam que ela chegou para marcar seu território. De sobremesa, não resista à esfera de chocolate que troca o belga pelo AMMA, referência respeitável de qualidade brasileira. E para arrematar, a iluminação com foco apenas nas mesas cria um clima intimista. Na saída, as ondas do mar e a maresia dão aquele abraço carioca!
- salão, móveis com estética escandinava. foto, rodrigo azevedo
- wine bar, quatro enomatics. foto, rodrigo azevedo
- champanheria, clima anos 50. foto, rodrigo azevedo
- alexandre lalas, charmoso anfitrião. foto rodrigo azevedo
- luciana plaas, talento e modernidade. foto rodrigo azevedo
- rabada desfiada com polenta de trigo. foto rodrigo Azevedo
Mais do que restaurante com jeito de casa, o Puro é uma experiência sensorial. Com uma varanda externa no térreo e outra no terceiro piso traz a natureza do Jardim Botânico, incluindo o Cristo, para os ambientes. Particularmente, a da cobertura é um presente. De dia há o esplendor do verde e, de noite, se ventar, folhinhas caem das árvores, sutilmente iluminadas em tom âmbar. Momento mágico. O projeto de Ligia Cury valoriza a vista e, em tons neutros, os móveis têm beleza discreta com décor e iluminação de Aloisio Sirimarco. Um achado colocar nas paredes carreteis de linho da extinta fábrica carioca Leslie, assim como luminárias feitas com tubos de madeira e metal antigos que eram dos teares. A comida? Um sonho. Nas mãos do chef e proprietário, Pedro Siqueira, as receitas são elaboradas com produtos da melhor qualidade. Ele encontrou em fornecedores locais tudo o que precisa para fazer seus clássicos caseiros, que resgatam os sabores de sua infância embalados de maneira contemporânea. “Quanto menos mexemos nos alimentos melhores eles ficam”, diz com leve sotaque gaúcho. Das receitas autorais, a moquequinha com pirão de tomate fresco e broto de coentro e o lagostim com creme de pupunha, compota de abóbora e farofa são pura sedução. Um caso a parte, os drinques autorais de Alex Miranda, como a caipi de caju, lima e hortelã. Quer levitar? Prove a sobremesa creme de limão com farofa de mel e raspas frescas. Se estiver em boa companhia, então, vai ser difícil sair desta casa. Um caso sério!
- na cobertura, varanda externa. carreteis de linha na parede. foto joão chieppe
- bar, vinhos biodinâmicos e drinques autorais. foto joão chieppe
- vista linda e móveis depojados. foto joão chieppe
- o chef pedro siqueira. foto joão schubert
- moquequinha. foto alexander landau
Através do vidro
Com o sugestivo título “Lugares onde nunca estive”, a artista plástica Claudia Melli desvenda um pouco de sua imaginação. Na mostra que começa domingo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM, ela apresenta 17 obras relevantes de sua carreira e quatro inéditas. Em todas trabalha com nanquim sobre vidro e ultrapassa os limites entre desenho, pintura e fotografia. Há um clima dramático e belo em seu trabalho. “Quase tudo o que vemos é através do vidro. O vidro da janela de casa, da janela do trabalho, do carro, da televisão… O vidro se torna a pele onde o dentro e o fora se juntam”, afirma a artista. A exposição fica em cartaz até o dia 17 agosto.
Jornalista que transita por design, arte contemporânea, arquitetura, gastronomia, enfim, viver em grande estilo.