por Bruno Cavalcanti
Ator, diretor, encenador, dramaturgo, cenógrafo, iluminador, perde-se de vista a quantidade de títulos que podem ser associados ao nome de Elias Andreato, o artista que se tornou um dos mais requisitados dos palcos paulistanos na virada da década de 90, e que guarda em seu currículo a direção de espetáculos protagonizados por nomes como Maria Bethânia, Marília Pêra, Juca de Oliveira, Walderez de Barros, Irene Ravache, entre tantos outros, além de ter protagonizado montagens ao lado de veteranos como Paulo Autran e Renato Borghi.
Em Elias Andreato – A Máscara do Improvável, biografia editada via Humana Letra, o jornalista e crítico teatral Dirceu Alves Jr. busca explorar e desmistificar cada uma das vertentes de Andreato através de entrevistas e depoimentos de colegas, amigos, familiares e do próprio biografado.
Ao longo das 192 paginas que compõem a obra, Alves tenta desvendar Andreato através de sua profissão, dando largo espaço para depoimentos de parceiros profissionais, como Jorge Takla, Celso Frateschi e o supracitado Borghi, perfilando desde os sucessos ate os fracassos, passando por causos de puro amor, ou de antipatias profissionais que se estenderam ao longo da vida.
No tempo da delicadeza do biografado, o jornalista descortina casos amorosos (como o duplo triângulo protagonizado por Elias, primeiro com Renato Borghi e Esther Góes, e depois com Borghi e Edith Siqueira), antipatias momentâneas (como sua relação com o diretor Antônio Abujamra, azedada após uma entrevista malsucedida no Jornal da Tarde) e casos de pura e sincera amizade (como sua relação com o veterano Paulo Autran já no fim da vida).
É bonita a passagem na qual o jornalista narra a amizade entre os dois profissionais graças a uma parceria iniciada com o convite para que Elias dirigisse o sucesso Visitando Sr. Green. Autran encontrou no amigo uma relação sem vaidades e sem disputas por atenção.
Bonitas também são as passagens que narram a acolhida que Elias recebeu de parte do elenco da novela Suave Veneno (1999) e sua relação com a então já amiga Edith Siqueira e o ator Celso Frateschi, com quem dividiu o peso da morte de Siqueira. Ainda que de forma um tanto truncada, a relação de Elias com o irmão, Elifas Andreato, também surge tocante, sendo o destaque da relação familiar narrada no livro.
Com texto fluente e conhecimento de causa, Alves perfila seu entrevistado desde a infância pobre em Rolândia, no interior do Paraná, até o início de seu despertar artístico, assistindo a uma apresentação de Rosa dos Ventos, mítico show de Maria Bethânia dirigido por Fauzi Arap em 1971.
Ao se envolver diretamente com a personagem, o autor opta por um texto que corre o risco de soar demasiadamente condescendente, embora opte pela forma seca e jornalística que, em momentos pontuais, abre espaço para uma análise elogiosa.
É, sem duvidas, um ótimo perfil da figura pública de Andreato que, apesar do tom edificante que permeia a publicação, recebe uma boa primeira biografia para chamar de sua. A Máscara do Improvável ajuda a descortinar alguns mistérios sobre um dos diretores mais atuantes no teatro brasileiro e faz justiça a sua historia que, ao longo dos tempos, ainda deverá ser recontada.
COTAÇÃO: * * * (bom)
Elias Andreato – A Máscara do Improvável
Editora: Humana Letra
Autor: Dirceu Alves Jr.
Valor médio: R$ 43,00