por Bruno Cavalcanti
Anunciados ao longo do dia de ontem, 19 de junho, os indicados à 28ª edição do Prêmio da Música Brasileira causaram certo espanto àqueles que estão acostumados a apostar nas suas já corriqueiras 15 categorias.
Dando certo destaque para artistas da cena contemporânea, o prêmio idealizado pelo empresário Zé Mauricio Macheline confirma uma posição que vem assumindo timidamente ao longo dos últimos quatro anos: legitimar a cena contemporânea e independente.
Contudo, essa posição faz-se notar que alguns dos favoritos do ano de 2016 não se concretizaram como apostas certeiras. Tidos como certos nas indicações principais, os discos de Fernanda Abreu (Amor Geral), Clarice Falcão (Problema Meu), Vânia Bastos (Concerto para Pixinguinha) e Teresa Cristina (Teresa Cristina Canta Cartola) foram deixados à margem na premiação que, em sua 28ª edição homenageia o camaleão Ney Matogrosso.
Indicado apenas por sua arte gráfica, Amor Geral não recebeu indicação na categoria de aposta certa – a genérica Pop/ Rock/ Reggae/ Hip Hop/ Funk –, enquanto, na mesma categoria, Clarice Falcão teve seu melhor álbum esnobado pela seleção. No lugar, com certo estranhamento, entrou o (bom) Palavras e Sonhos, de Luiz Tatit, que estaria melhor alocado na categoria MPB.
Se comparado a seus títulos anteriores, o álbum Canções Eróticas de Ninar, de Tom Zé, ganhou uma indicação muito mais pela verve tropicalista e mutante de seu autor do que pela qualidade de suas 13 músicas – aliás, verdade seja dita, Tom ainda não conseguiu reproduzir a genialidade de seu álbum Tropicália Lixo Lógico (2012), tampouco do EP Tribunal do Feicebuqui (2013), que rendeu disco aquém das expectativas – Vira-Lata na Via Láctea (2014).
Elogiado do Oiapoque ao Chuí, a homenagem da interprete Vânia Bastos (aposta preferida para a categoria melhor cantora de MPB) e do baixista Marcos Paiva ao repertório de Pixinguinha também não recebeu indicações, tendo sido desbancado, na categoria MPB, pela cantora Patrícia Bastos e seu álbum Batom Bacaba.
Um ponto importante a se notar acerca das indicações deste ano está na presença de Zizi Possi na categoria melhor cantora de MPB pelo EP O Mar me Leva, trabalho irretocável no qual Zizi deu voz a quatro mornas sob a produção azeitada de Zeca Baleiro. O problema é que parece que a própria Zizi fez questão de esconder do público este seu ótimo trabalho.
Indicada na categoria melhor cantora de samba, Teresa Cristina disputará com as tarimbadas Mart’nália e Roberta Sá, que também tiveram seus discos esnobados pela seleção, que consagrou a ala masculina do samba com álbuns de Martinho da Vila (De Bem com a Vida), Zeca Pagodinho (O Quintal do Pagodinho Ao Vivo vol. 3) e Pedro Miranda (Samba Original).
Nome estranho no ninho, a atriz e cantora Alessandra Maestrini recebeu (merecida) indicação na categoria Álbum em Língua Estrangeira pela dobradinha de CD e DVD Yentl em Concerto, gravado ao vivo no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.
A indicação de Maestrini também acende um farol sob a (injusta) esnobada do prêmio a Laila Garin, que lançou (ótimo) EP ao lado do grupo A Roda – que renderá, neste ano de 2017 CD e DVD com produção de Nelson Motta e direção de Ney Matogrosso.
Confirmando o favoritismo de seu excelente disco Trópix, Céu recebeu indicações nas categorias de melhor disco e melhor cantora, seguindo a onda do mercado e dando as costas a puristas que não consideraram o disco como um dos melhores de 2016.
A premiação acontece no dia 19 de julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com apresentação da cantora Zélia Duncan e da atriz Maitê Proença.