por Anna Ramalho
Herdei de minha mãe sua filosofia de vida, ela que foi uma apóstola do pensamento positivo muito antes que este virasse a palavra de ordem na autoajuda. Mamãe – apesar dos inúmeros e graves problemas que passou em sua vida – driblava os percalços com a garra e a alegria que só Garrincha soube encarnar nos seus tempos de glória, com as pernas tortas que se endireitavam milagrosamente na hora do gol e do grito.
Raça e bom humor, eis a fórmula. Ela era assim, me descubro assim.
Com os avanços da medicina, aquele câncer que matava sempre, não obrigatoriamente o faz mais. Meus competentíssimos médicos me garantiram na largada. Tenho a convicção de que não há doença que se crie, não há problema sem solução, se mantivermos uma atitude verdadeiramente de fé, de esperança, de positividade. Se possível, arranjando motivo pra rir. E sempre há.

Nem tanto tempo faz, coisa de 20 anos passados, e lá estávamos nós ainda dançando e rodopiando nos black ties da vida: meu amigo Pedro e eu. Antes da queda
Por exemplo: meu amigo Pedro – presente na minha vida desde os meus 13, 14 anos – veio me fazer companhia de noite, enquanto Bela Antonia foi festejar o aniversário da Vó Fernanda. Por enquanto, não posso ficar sozinha, tem oxigênio pra carregar, tem que andar devagar, não pode sassaricar, aquelas coisas. Em determinado momento, ele levanta para ir à cozinha, tropeça, e se estabaca. Felizmente nada aconteceu. Era o que faltava: eu no oxigênio e ele lá todo quebrado, sem socorro. Dois velhinhos avariados. Quando conseguiu se levantar, depois de respirar, meditar, destravar, caímos na gargalhada. Pensar que nós dois, tremendos pés-de-valsa, riscamos os mais finos salões do Rio de Janeiro dançando de valsa a pagode. O que fazer agora se não rir?
A idade é uma merda e a outra opção não se considera pelo momento. Caiu, levantou. No chão da cozinha ou na vida.
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Não tenho pretensão de ficar aqui me achando e ditando regras, mas penso que são reflexões que podem ajudar, né, não? Aproveito para confidenciar que toda noite, quando religiosamente meu clínico Roberto Zani me telefona, ficamos um bom tempo rindo e fofocando. Não me interessa falar de plaquetas, ureia ou creatinina. Não entendo nada disso, deixo tudo nas mãos dele, e bora lá rir um pouco. A gente merece.
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Bola pra frente. Ainda não posso me esbaldar como gosto. Nem tagarelar, que adoro, pra não forçar a garganta e a voz. Mesmo pra ir ali na esquina tenho que chamar meu par constante, o carrinho do oxigênio. Um saco. Mas, por enquanto, tem que ser, sem opção.

O jornalista Guilherme Amado e seu livro, que foi lançado com sucesso em Brasilia, e hoje, 9 de junho, terá noite de autógrafos e debate na Livraria Travessa, Shopping Leblon, a partir de 19 h
Em companhia do balão de ox – e dando graças ao Bom Pai por isso e por tudo – poderei ir hoje, dia 9, muito emocionada, ao lançamento do livro “Sem Máscara: o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos”, do meu sobrinho Guilherme Amado. Sem corujice, um impecável trabalho de jornalismo investigativo, que deve estar levando nosso inominável presidente a ataques de pelancas os mais variados. Guilherme conta muitos bastidores importantes da luta contra a pandemia tachada de gripezinha pelo PR.
Não é por que estou aqui na luta para expulsar esses dois tumores cancerosos – apelidei-os de Milicianos – que vou esquecer: #forabolsonaro. O inominável está ultrapassando todos os limites do razoável na sua sanha de perpetuar-se no poder. E o povo que se dane, o Brasil que exploda.
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Os noivos do sábado: meu afilhado querido João Henrique e sua linda Tati. Emoção demais
Também em companhia do Ox ( mais íntimo, né?) e carregando na agenda social, no sábado tem casamento do meu afilhado de batismo João Henrique com a bela Tati. João é afilhado tipo filho. Ele me escolheu para madrinha, quando tinha 15 anos. Desde que me vi doente, ainda na incerteza do que seria e do que aconteceria comigo, a minha preocupação era se conseguiria estar presente aos dois compromissos tão do coração. No fundo, no fundo, sempre soube que iria.
Questão de postura, de energia. De esperança, de pensamentos positivos e de muito bom humor. Tudo passa. Vai passar. Milicianos em expulsão.
A gente não pode esmorecer e nem perder a Fé jamais.
#boralá