por Anna Ramalho
Há um ano e meio enfurnada dentro de casa, a luta pela vida em ritmo de 30 anos – quando contabilizo a longeva marca de 72 – perdas irreparáveis, muita tristeza e angústia, preocupações aos montes, e a desgraça maior: ser cidadã de um país estancado no atraso e presidido por Jair Messias Bolsonaro. É o popular ninguém merece.
Felizmente, a coisa tá ficando preta pro lado dele, no momento com 53% de rejeição e a ameaça de, enfim, o dia de prestar contas à Justiça chegue muito antes do que ele e sua corriola esperam.
A vida não é justa.
Enquanto eu e os milhões de brasileiros que não o apoiam sofremos a crueldade deste tempo tenebroso e penamos com um país desgovernado e inflacionado, Sua Excelência vai deixar o Palácio do Planalto – onde já goza de mordomias impressionantes às nossas custas – e tomar o rumo de Nova York, a capital do mundo, levando em seu Boeing presidencial a turminha dos puxa-sacos. Estarão na caravana rolidei os ministros Paulo Guedes ( que padece de impressionante falta de vergonha na cara), os milicos de fé Augusto Heleno e Luís Eduardo Ramos, o Queiroga da Saúde ( tomara ficasse esquecido no Bronx), Joaquim Leite e Carlos França, que não sei e nem quero saber ministros do quê são, o puxa-saco-mor Pedro Guimarães, presidente da Caixa, o advogado da hora Rodrigo Mudrovitsch e, claro, como não poderia deixar de ser, o Eduardo Bananinha, o segundo filho que sonhou em ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A turma será escoltada por três intérpretes. Um deve ser só pra Jair, que mal fala português, quem dirá o belo idioma de Shakespeare. Os outros dois serão divididos por essa plêiade de incompetentes. O Paulo Guedes, além de incompetente, é arrogante e se acha – mas se vira no inglês desde que frequentou o campus da Universidade de Chicago. Oh, yeah!!!!
O Bananinha continua estudando inglês. Já saiu do “the book is on the table” para “how about your burger, sir? Rare, medium rare or well done?” Bem que podia ficar por lá tentando um estágio no PJ’s Clark, né, não?
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Sinto uma vergonha tremenda quando penso nessa turma solta na capital do mundo, sem o menor interesse em conhecê-la de verdade, desrespeitando regra hoje universal -o uso de máscaras, o respeito à pandemia, à própria vida a à dos outros – pagando mico atrás de mico e jogando no lixo a nossa imagem tão duramente conquistada depois de tantos momentos vexaminosos e indecentes da nossa História. Bolsonaro faz isso e faz com prazer. Na terra do seu ídolo Trump, então, podemos esperar por um show de maluquices e bizarrices. O vexame já começou e ele ainda nem chegou lá . No cinco estrelas em que ficará hospedado, só poderá usar o quarto e o lobby, de passagem. Nem pensar em restaurante. Pensando bem, não deve fazer falta para quem leva pacotes de miojo na mala, ao lado do revólver e do Rivotril. Oh, God!
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É uma beleza o Central Park no outono, com as folhas caindo com naquela canção do Sinatra
Quanto desperdício! Daria tudo para estar a caminho de Nova York na virada para o outono, sua época mais bela, com o Central Park todo em tons de castanho, laranja, amarelo, as árvores com sua última roupagem antes do inverno e da neve. Andar pelo parque, ir à Broadway, visitar detidamente o Met e o MoMa, bater perna em Park Avenue, na Quinta ou na Madison, tomar um café no Village, andar pela High Line…

O centro da vida artística e cultural de Nova York, a Broadway é simplesmente o máximo!
Não posso. Mesmo que pudesse, não deveria neste momento. Mas dá uma dor no coração pensar nessa gentalha se espalhando por lá, ainda que por pouco tempo, enquanto aqui ( e lá também) as pessoas morrem, famílias sofrem, de Covid e também pelo descaso e incompetência que abundam neste governo.

Amo o Village, o point da boêmia, dos descolados, e essas town-houses tão típicas
A vida não é justa. Não é mesmo.
Porém, tudo passa. E tudo isso vai passar. Tá chegando a hora.