por Mariza Gualano
Livros que viram filme é bastante comum no cinema e inúmeras vezes os resultados são mais que satisfatórios. As publicações ilustradas parecem estar mais habilitadas para as adaptações por terem imagens. Mas nem sempre as mesmas são tão cinematográficas a ponto de enxergarmos um filme em andamento apenas com sua leitura e desenhos que sugerem planos, sequências e closes admiráveis. É o caso das obras citadas a seguir.
O escritor e ilustrador Brian Selznick nasceu nos EUA em 1966. Trabalhou em livraria e ao que tudo indica devorava criações de literatura infanto-juvenil que vieram a se tornar sua especialidade. A julgar por suas duas obras primas A Invenção de Hugo Cabret (2007) e Sem Fôlego (2011), pode-se constatar que elevou o gênero ao grau de excelência. Protagonizadas por pré-adolescentes sensíveis e cativantes, embarca o leitor numa viagem repleta de mistério e suspense através de escrita atraente e ilustrações descritivas e pródiga em detalhes, feitas a lápis, sempre em preto e branco.
Talvez por conta da narrativa arrebatadora e uma estrutura muito cinematográfica, os cineastas Martin Scorsese e Todd Haynes não resistiram adaptá-las para o cinema. Scorsese dirigiu A Invenção de Hugo Cabret/ Hugo em 2011. O resultado são cenas que fascinam na medida em que o filme se desenrola contando com movimentos de câmeras surpreendentes e ao fazer um dos melhores empregos do sistema de 3D no cinema.
O cineasta Todd Haynes não ficou atrás. Ao dirigir Sem Fôlego/ Wonderstruck, em 2017, transporta as páginas do livro de Selznick para a tela utilizando de maneira criativa e sedutora a linguagem cinematográfica.
Quando a história é passada nos anos 20, é filmada em preto e branco e adquire a estética dos filmes mudos, incluindo o uso de cartelas reproduzindo as falas. No momento em que a trama é ambientada nos anos 70, a fotografia, cenário e trilha sonora evocam imediatamente, não só a atmosfera da época, mas a cinematografia daquele período.
Os dois filmes fazem, portanto, uma bela homenagem à sétima arte. Podemos dizer ainda que os dois livros escritos por Brian Selznick também prestam um admirável tributo ao mundo das películas, seja através dos enredos e personagens, seja pela narrativa. Parente de David O. Selznick, produtor dos clássicos King Kong (1933) e …E O Vento Levou (1939), parece que traz no DNA o amor pelo cinema.
No cinema, páginas e fotogramas podem formar uma bela parceria.