Se você não é necessariamente um conhecedor dos grandes espetáculos da Broadway que o Brasil vem importando desde os anos 90, talvez o nome de Giulia Nadruz só vá te fazer algum sentido nos próximos meses, quando estreiam as séries “A Secretária do Presidente” (Multishow) e “Dois Irmãos” (Rede Globo).
A primeira, uma comédia nos moldes das que vem sendo produzidas pelo canal a cabo, trará Nadruz como uma prostituta cômica, enquanto a segunda, um drama dirigido por Luís Fernando Carvalho, a atriz não revela muito. Faz sentido. Desde sua gravação, a série vem sendo mantida em segredo de Estado pela Vênus Platinada.
Contudo, se você tem o mínimo de interesse nos grandes musicais produzidos no país tropical, com toda a certeza o nome de Giulia não só lhe é bastante familiar como bem quisto. A atriz é um dos principais talentos de sua geração.
Foi ela a responsável por substituir Sara Sarres, um dos nomes mais famosos do gênero, no papel da princesa Fiona na versão brasileira de “Shrek – O Musical”. Giulia foi também a esposa de Charles Chaplin em “Chaplin – O Musical”. Isso sem contar o número gigantesco de produções das quais fez parte, como “Mamma Mia!”, “Um Violinista no Telhado” e “Gypsy”.
Mais recentemente, o destaque veio através da cômica de Gabrielle, uma das irmãs de Cinderella no musical que ficou em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, e rendeu à atriz sua terceira indicação ao Prêmio Bibi Ferreira, um dos mais importantes do teatro musical tupiniquim. O espetáculo partiu para o Rio de Janeiro, mas Nadruz ficou. Pior para os cariocas.
Ela chegou a ser anunciada como a protagonista da remontagem de “My Fair Lady”, mas acabou mesmo foi no papel que consagrou a carreira de Demi Moore nos cinemas. Em “Ghost”, filme adaptado aos palcos, que chega ao Brasil em setembro sob direção de José Possi Neto, a atriz vive Molly, que perde seu grande amor, mas mantém um laço afetivo tão forte que sente sua presença do além-vida.
A atriz bateu um papo com a coluna após um dos ensaios e acredita que o musical vá arrebatar as emoções do público que, acostumado ou não aos grandes musicais, não vê a hora de ver a clássica história de amor no tablado. Confira o papo abaixo:
Conexão Sampa: Qual sua expectativa em relação à reação do público ao musical?
Giulia Nadruz: É uma peça que fala de emoções muito profundas, de questões que estamos acostumados a passar pela vida, mas, no musical, elas chegam de uma maneira muito drástica, como a perda. O que damos valor na vida, o que é importante e como tudo é efêmero. A ideia é saber se reinventar e seguir em frente, como a personagem da Molly e o foco é esse: quem fica. Eu espero que o público se identifique com essas sensações, com essas histórias e relacionamentos, e envolve a traição e tudo o mais. Então é claro que queremos tocar as pessoas e que elas se identifiquem, mas queremos também causar uma reflexão. Eu espero que elas saiam refletindo sobre a própria vida. O que importa na vida? Aprender a dar valor às coisas simples, justamente porque, como eu disse, tudo é efêmero. E isso abre reflexão pra tanta coisa. Espero que as pessoas saiam tocadas porque é uma história de amor e fé, e por mais que não toquemos na questão religiosa, falamos de fé, falamos sobre acreditar. Espero sinceramente que todos saiam emocionados com tudo aquilo, além do que tem músicas muito bonitas, o que ajuda no processo.
CS: Sua carreira tem sido ascendente com grandes papéis. Como você enxerga essa trajetória?
GN: Eu sou muito grata a todas as oportunidades que tive na minha carreira. Na minha vida tudo sempre aconteceu muito rápido. Mas isso reflete a forma como eu me dedico a minha carreira e a minha vida de uma forma muito profunda e intensa. Toda vez que mergulho num trabalho, busco me preparar da melhor forma possível, tecnicamente com aulas de canto, dança e coaching de interpretação, o que é muito importante para os musicais, mas emocionalmente também. E cada projeto é um mergulho no universo da personagem, da coisa nova. Beira quase a uma obsessão, porque fico o dia inteiro pensando nisso, vendo referências e buscando me aproximar desse novo universo. Em todos os trabalhos aprendi muito, seguimos sempre evoluindo e crescendo. A cada trabalho aprendo coisas novas e cresço como profissional.
CS: TV e cinema estão nos seus planos?
GN: Eu adoro tudo! Eu sou muito eclética e gosto de experiências diferentes, pegar personagens e linguagens diferentes. Eu tenho muita curiosidade. Nunca trabalhei com cinema, mas morro de vontade. Já fiz algumas peças não musicais, principalmente no início da minha carreira, mas como cantora e dançarina o musical me levou para esse universo que eu amo. Agora eu estou trabalhando com televisão. Gravei uma série na Globo chamada “Dois Irmãos”, do Luiz Fernando Carvalho, e uma no Multishow, chamada a “Secretária do Presidente”. Nessa série eu faço uma personagem muito diferente de tudo que já fiz, é uma garota de programa do núcleo cômico, super engraçada, com uma trajetória divertida e é um desafio diferente. Eu estou curtindo muito conhecer este novo universo. Mas espero que, entrando em novos veículos, eu seja desafiada, mas sem sair do teatro. Não quero sair do teatro nunca. É minha paixão trabalhar com teatro e música, principalmente ao mesmo tempo.
CS: Qual papel você sonha interpretar?
GN: Confesso que existem alguns papéis que a gente, quando assiste, pensa em como seria incrível fazer… Mas penso muito pouco. Eu tenho um prazer de experimentar coisas novas, então sempre me empolgo muito com essa variedade que aparece na minha vida. Não existe personagem ruim, existe um novo universo a ser explorado, por menor que seja a personagem podemos fazer coisas incríveis com ela. Mas em musical, por exemplo, a Molly, do “Ghost”, era um dos papéis que gostaria de fazer na vida e tive esse presente. Outro que amo é a personagem feminina de “Once”. Mas, dos clássicos, Mary Poppins é uma das que tenho interesse. É uma personagem mítica, quase não humana.
CS: Musical é arte?
GN: Como não?! Eu acho que é uma forma de arte bem completa até, porque você trabalha com várias formas de arte ao mesmo tempo: teatro, música, canto, dança… você tem uma orquestra ou uma banda acompanhando a gente diariamente, e você contar a história através da música… Quando bem feito toca as pessoas de uma forma única. E a arte nada mais é do que um veículo para tocar o público.