por Bruno Cavalcanti
Embora pareça lugar comum nos obituários de atores e atrizes que vem saindo de cena nos últimos anos, é impossível não dizer Sônia Guedes, atriz morta na tarde de ontem, 03, em decorrência de um câncer aos 86 anos, saiu de cena sem devido reconhecimento para seu talento, que nunca foi totalmente registrado nas novelas e filmes que fez.
Conhecida efetivamente pela popularidade de Elza, a mãe de Malu no seriado Malu Mulher, exibido pela Rede Globo entre 1979 e 1980, Sônia construiu uma carreira irretocável mesmo nos palcos. A despeito de nunca ter despontado por seu talento vocal, a atriz chegou a flertar com o teatro musical, compondo o elenco de montagens como O Homem de La Mancha (1975) e Um Violinista no Telhado (1992), sendo a única atriz capaz de substituir, sem prejuízos, Bibi Ferreira na antológica montagem original do clássico Gota D’Água (1979).
Sônia abriu parcerias com diretores de todas as épocas, tendo brilhado na clássica montagem de A Falecida, de Nelson Rodrigues, encenada por Antunes Filho em 1965, e brilhando como atriz coadjuvante em Medeia, a tragédia de Eurípides que ganhou os palcos brasileiros em 1970 sob a direção de Silnei Siqueira, estrelada por Cleyde Yáconis.
A atriz abocanhou os prêmios APCA, Ziembinski e Governador do Estado por sua performance em Caixa de Sombras, do norte americano Michael Cristofer, sob a direção de Emílio Di Biasi, em 1979, onde contracenaria com um de seus grandes parceiros de cena, Antônio Petrin. A dupla se encontraria ainda outras vezes, entre elas em 2004, na comédia Senhoras e Senhores, de Lionel Goldstein, então ainda inédito em terras tupiniquins, sob a direção de Alexandre Reinecke, ao lado de Suely Franco, John Herbert e Petrin.
A atriz ainda se uniu a colegas como Laura Cardoso, Nívea Maria, Etty Fraser, Miriam Mehler, Gabriela Rabelo, entre outros, para a comédia A Última Sessão, sob a direção de Odilon Wagner, em 2015. E em 2017, brilhou sob a dramaturgia de Newton Moreno em Um Berço de Pedra, em 2017. Foi sua última passagem pelos palcos.
Na TV, onde estreou em 1977 em participação no semanal Vila Sésamo, chegou a desempenhar papéis em novelas da Rede Globo, TV Manchete, Rede Record, TV Cultura e SBT, onde fez sua última participação na TV aberta, na novela infantil Chiquititas, em 2014. Na TV fechada, ainda gravou participação na série Santo Forte, da AXN, em 2015.
A despeito de ter ganhado tardio reconhecimento no cinema, ao ser premiada no Festival do Cinema Luso-Brasileiro e no Festival de Abu Dhabi por sua participação em Histórias que só Existem Quando Lembradas (2011), de Júlia Murat, Sônia Guedes saiu de cena sem o devido reconhecimento por seu imenso talento, mostrado sempre através de personagens secundárias na TV e no cinema, mas com o destaque necessário no teatro.
Sua trajetória foi saudada em vida, com a exibição do programa Persona in Foco, uma espécie de memorabília produzida e exibida pela TV Cultura sob a apresentação de Atílio Bari. Mas ainda merece muito mais.