por Bruno Cavalcanti
Profissional que atingiu patamar hoje inalcansável dentro do teatro musical brasileiro, Kiara Sasso completa 40 anos de vida neste domingo, 27.
Embora não seja necessariamente uma data usual no calendário de efemérides da imprensa brasileira, as quatro décadas desta atriz e cantora que foi a voz e rosto das principais mocinhas do teatro musical brasileiro, merece menção honrosa.
Primeiro porque Kiara conserva em seus últimos trabalhos o mesmo frescor juvenil de seus primeiros papéis de grande expressão. Segundo porque, embora já tenha aposentado as mocinhas clássicas dos contos de fada há quase 10 anos, quando deu vida à ingênua Emma Carrew em Jekyll and Hyde – O Médico e o Monstro, ainda é impossível dissosiar sua imagem de papéis do gênero, como a sonhadora Bela, de A Bela e a Fera, a iniciante Christine, de O Fantasma da Ópera, Maria, de A Noviça Rebelde e, claro, a sereia Ariel, em A Pequena Sereia que, embora tenha ganhado (irregular) montagem brasileira estrelada por outra protagonista, ainda se mantém eternizada na voz de Sasso, na redublagem das canções do desenho de 1998 produzido pela Disney que, de tão marcante, foi assumida extra-oficialmente como a principal.
Em sua carreira, a atriz ainda guarda protagonistas fora da narrativa maniqueísta, entre elas, a batalhadora Donna, do blockbuster Mamma Mia!. Como antagonista, conseguiu ainda bons momentos em Miss Saigon, mas foi em A Madrinha Embriagada que conseguiu, de fato, uma virada em sua imagem – que lhe rendeu um Prêmio Bibi Ferreira na categoria melhor atriz coadjuvante e, inexplicavelmente, uma esnobada de prêmios teatrais que, preconceituosos, pouco valorizam o teatro musical brasileiro. Pior para eles.
No ímpeto de produtora, juntou-se a seu marido, o ator, diretor e dramaturgo Lázaro Menezes, para criar a fábula musical O Palhaço e a Bailarina, superprodução do teatro infantil que recebeu destaque, e segue em cartaz desde sua estreia, há três anos. No espetáculo, a atriz subverte os moldes que criou para dar vida às mocinhas ao dar vida à bailarina Anabel – uma heroína fora dos antigos padrões, mas muito ligada às narrativas contemporâneas das atuais protagonistas dos desenhos animados.
A atriz ainda teve a chance de viver uma das grandes cantoras paulistas em Isaura Garcia – O Musical, produção que, de tão inadequada, foi uma das poucas do gênero biográfico do teatro musical brasileiro que não aconteceu. E conseguiu destaque como a megera Stela, no drama A Audição, seu primeiro trabalho profissional fora do teatro musical e um de seus melhores trabalhos de atriz – também inexplicavelmente esnobado na temporada de prêmios.
Prestes a estrear a superprodução A Casa das Sete Mulheres, na qual também assina produção, co-direção e as letras, compostas em parceria com Marcus Vianna, Kiara Sasso completa 40 anos ainda com a imagem que construiu intacta perante o teatro musical brasileiro. A artista ainda é a primeira grande protagonista das grandes produções e, ao passar dos anos, se a história lhe fizer justiça, continuará sendo festejada por abrir caminhos para atrizes mais jovens que, embora construam grandes carreiras, ainda lhe deverão o surgimento da cartilha básica sobre como interpretar uma mocinha sem fazer dela o ponto mais fraco e entediante de um musical. Muitas ainda não descobriram o caminho das pedras, mas a carreira de Sasso segue disponível para consulta.