por Gilda Mattoso
Viva Zapata, Pancho Villa, Augustin Lara, Maria Felix, Frida Kahlo, Diego Rivera, Montezuma, Cantinflas e toda a gente mexicana.
Vim pela terceira vez ao México e só agora estou conhecendo a monumental capital federal ( o DF como os locais se referem à Cidade do México). Vim há anos a Cancun, vinda de Havana, ano passado fui com Gil fazer um show em Zacatecas e só passei pelo aeroporto da capital, e agora viemos para o show de aniversário da cidade de Guadalajara e resolvi ficar três dias pra dar uma olhada na cidade que tanto fascina Caetano Veloso, por exemplo, que também estava aqui.
O motivo mais forte era poder rever e me hospedar com meus amigos Martha e Arturo Rueda, ele diplomata mexicano que serviu em Hong Kong, Montevidéu e Rio, onde nos conhecemos, pois nossos filhos eram companheiros de colégio. O casal é extremamente culto e simpático. Além disso, são farristas como eu.
Cá estou no belo apartamento deles no bairro de Lomas de Chapultepec, espécie de Leblon local.
Guadalajara é a segunda cidade do país e é mítica pra nos brasileiros, já que o Brasil exibiu muito do seu futebol-arte por lá , em 1970, no Estádio de Jalisco, com uma seleção inesquecível. Bonita, muito arborizada, a 1.500 m de altitude e muito rica em artesanato – para mim, o artesanato deste pais é um dos mais ricos do mundo. As cerâmicas, as roupas bordadas à la Frida Kahlo, vidros, bolsas e objetos de palha, tudo muito colorido e lindo. Há coisas extremamente cafonas também e não é de se espantar que Pedro Almodóvar declare que uma de suas maiores influências é o México, com essa estética meio kitsch e seus dramalhões em forma de boleros e de filmes da velha Pelmex!!!
O show em Guadalajara aconteceu na praça municipal que fica entre a majestosa Catedral e o belo Teatro Degollado. Segundo as autoridades locais, havia mais de 5 mil pessoas. Os artistas convidados para a comemoração foram Gil, Caetano e Carlinhos Brown (ou Carlito Marron como ele é conhecido nos países de língua espanhola). Foi uma noite inesquecível começando com Caetano do jeito que eu mais gosto: só com seu violão, entoando canções de seu vasto e lindo repertório. Na ocasião, ele escolheu canções mexicanas para deleite da plateia: “Fallaste Corazon”, “Rival” e “Cucurucucu Paloma” levaram a galera ao delírio. Depois vieram Gil e sua banda afiadíssima (Arthur Maia, Sergio Chiavazzoli, Gustavo de Dalva, Jorge Gomes, Toninho Ferraguti e Nicolas Krassik) que, de cara , tocaram “Fé na Festa”, mostrando ao público que o forró ia ser animado. No meio da apresentação de Gil, ele chamou Caetano de volta ao palco e juntos levaram “Cajuina” e “Farolito” sucesso de Augustin Lara nos anos 50. Depois de Gil, a explosão de energia que é um show de Carlinhos Brown, com seus tambores, atabaques, banda fortíssima também. No final , os 3 juntos para mais uns hits e receberem das mãos da secretária de cultura de Guadalajara, Myriam Vachez Plagnol, uma escultura símbolo da cidade.
Agora, o artesanato mexicano me deixou louca – não só a mim, mas a membros das equipes dos 3 artistas. Fomos primeiro a Tonala (tinha também Tlaquepaque) vilarejo na periferia de Guadalajara, onde às quintas e aos domingos acontece uma feira. Ficamos loucas (minhas companheiras eram Julia Sampaio da equipe de Gil, Giovana Chanley de Caetano e Claudia Lima, de Brown). Rodamos horas pela feirinha, compramos umas tantas bobagens e no dia seguinte fomos em busca de mais artesanato e fomos ao San Juan de Dios uma espécie de Mercado Modelo de Guadalajara, onde pirei nos vestidos bordados e comprei 8 – não só pra mim, mas encomendados por amigas.
Nos dias em Guadalajara, com meus amigos, caímos na avenida Presidente Masaryk, onde estão instaladas todas as grandes grifes como Chanel, Dior, Marc Jacobs, Gucci, Prada, Bulgari, Burberry, entre outras. Nossa primeira parada era o Museu de Antropologia , que fica no meio de um parque, e é um “must” pois tem toda a historia do México começando com Olmecas passando pelos Aztecas e Maias. O prédio em si é belíssimo (projeto do arquiteto mexicano Pedro Ramires Basquez) e antes de entrarmos vimos uma exibição dos “voladores de Papantla” acrobatas em trajes típicos de Vera Cruz . Embora seja inverno a temperatura estava super amena. Atravessamos uma das avenidas mais bonitas do mundo – Passeo de la Reforma – bem ao estilo parisiense. Do final dela avista-se o Café e Restaurante Sanborn’s de los Ajulejos, espécie de Colombo local onde, na época da revolução, Emiliano Zapata e Pancho Villa entraram a cavalo!!!! A Praça Garibaldi tem Mariachis 24 horas por dia 365 dias por ano!!!! São dezenas de Mariachis, com seus sombreiros e roupas típicas e o povo fazendo pedidos. Fomos para o Tenampa, bar tradicionalíssimo, frequentado por gente misturada e interessante. Nas paredes, tem pintados os rostos dos grandes nomes da musica mexicana: o já citado Augustin Lara, Pedro Vargas, Pedro Infante, Jorge Negrete, Lucha Villa, entre outros. Rodei muito por vários lugares e fomos parar no Zocalo. Esta é a maior praça das Américas, com sua catedral e seu Palácio Nacional e com uma mega bandeira mexicana bem no meio dela. Pra minha sorte, o Palácio Nacional estava aberto para visitação, coisa que o próprio Arturo, nascido e criado na cidade, nunca tinha visto. O motivo é uma exposição do bicentenário da independência(1810) que começou ano passado e vai até julho. O palácio tem o mais impressionante mural de Diego Rivera que conheceu Frida Kahlo ali, quando estava pintando a obra.
Levamos mais de 2 horas pra correr a exposição, saímos de lá e entramos na catedral, linda também, e viemos para casa, pois Martha nos esperava para um ajantarado com um dos pratos mais importantes da culinária mexicana: mole e rajas poblandas. Antes do almoço, margaritas preparadas por Martha que deleitaram tambem Afonso Nery, diplomata amigo meu, que acaba de se instalar aqui, onde seraá Cônsul Adjunto.
Acho que, desde que conheci o Peru e fiquei maravilhada, não tinha um impacto tão forte com um lugar. Obviamente, o fato de conhecê-lo com Martha e Arturo fez toda a diferença. Fui a lugares que turistas nem supõem que existem e levo lembranças de artesanato e muitas lembranças no coração. Tomara que eu possa voltar um dia.
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