O samba dos últimos dias tem uma nota só: o segundo turno da eleição presidencial. Nota que anda dissonante demais para o meu gosto. O enredo desafinou. Os últimos acontecimentos foram um ultraje aos brasileiros, uma vergonha inominável, uma desclassificada baixaria. Estou enojada dos métodos pouco ortodoxos, para dizer o mínimo, da militância enraivecida e vermelha de ódio. Como disse aquele ex-presidente que hoje é aliado e, em 1989, autor de rasteira memorável e indelével para os cidadãos de bem deste país, “o tempo é o senhor da razão.” Então, vamos dar tempo ao tempo.
Portanto, e deliberadamente, vou sair deste assunto que tem me assombrado a ponto de me tirar o sono. Vamos partir para as amenidades, que combinam com o sábado. Vi esta semana, no DVD porque acabo não indo ao cinema, Cartas para Julieta, uma daquelas comédias românticas engraçadinhas, leves, ideais para estes dias de ira e descontrole.
O cenário é Verona, na Itália, terra de Romeu e Julieta. Noves fora a paisagem da Toscana, as cenas em Verona e Siena, o grande desempenho é o de Vanessa Redgrave e seu amor maduro. A lourinha Amanda Seyfried é uma Sandra Dee dos tempos modernos – loura igual, bobinha igual, papel igual.
O filme, não apenas me distraiu deste desfilar de patifarias diversas, como me fez pensar em como a adorável Itália – Veneza, Roma, Florença, Verona, o Lago di Como – é sempre sinônimo de romantismo no cinema americano. E evidente inspiração para o nosso Sílvio de Abreu, brilhando mais uma vez em Passione, que exalta a região da Toscana, onde, aliás, fica a Verona de Cartas para Julieta.
Quando eu era menina, muito pequena ainda, veio o primeiro que me marcou: A Fonte dos Desejos, Three Coins in the Fountais, que me lembro mais pela voz do Frank Sinatra cantando a música inesquecível: ‘three coins in the fountain, each one seeking happiness, three hopeful lovers, which one will the fountain bless?” E me lembro de mamãe, que achava o Rossano Brazzi um pão. Ligeiramente canastrão, o italiano Brazzi era presença certa nas comédias românticas daqueles doces tempos da minha infância e adolescência. O mesmo Brazzi ( Louis Jourdan era outra figurinha carimbada em Roma e adjacências) estaria em Candelabro Italiano, este, sim, um must da minha vida de mocinha. Perdi as contas de quantas vezes vi o filme, que unia num louco amor a americana Prudence Bell, vivida pela gracinha morena da Suzanne Pleshette, com Don Porter, o bonitão alto e louro que coube a Troy Donahue. A música, Al di la, embalava todas as festinhas do verão em Teresópolis, apesar de a música de abertura, Rome Adventure, ser muito mais bonita, acho eu hoje. Mas, naquele tempo, só dava Al di la. “Del bene piu precioso, ci sei tu, al di la, dei limiti del mondo, ci sei tu…” Como eu sonhei em alcançar este tal de Al di la. “Para além, do outro lado”, traduzia minha mãe, “para além dos limites do mundo, está você.” E eu suspirava e cantava, pensando no bonitão daquela hora.
Al di la: acho que é bem onde eu gostaria de estar hoje. Punto e basta.