por Lu Catoira
A sustentabilidade aplicada ao vestuário tem sido um assunto estudado desde meados do século XX, com a preocupação pelos impactos ambientais, sociais e éticos causados pela indústria têxtil. O teórico Lipovestky (1989), analisa que as mudanças acontecem desde o surgimento da moda no começo do século XV, e que acompanha as transformações da vida das pessoas.
No final da década de 80 dão-se o inicio das primeiras culturas de algodão orgânico e as primeiras roupas consideradas ecológicas, ou “verdes”. De um modo lento, mas constante, os consumidores começaram a ficar mais atentos às informações sobre a procedência dos produtos e seus impactos no ambiente e na sociedade, e as empresas começaram a fazer a sua parte. As indústrias de jeans, por exemplo, têm melhor performance no mercado de ações desde que instalaram tratamentos de água nas empresas, despoluindo os mananciais.
A utilização de matéria-prima orgânica é um passo na direção da sustentabilidade . E é pontuando o algodão agroecológico que Yamê Reis escreveu o livro O Agronegócio do Algodão que debate sobre a sustentabilidade e a construção de um discurso falsamente sustentável no Brasil.
A editora é designer de moda, mestre em Sociologia Política, fundadora do Rio Ethical Fashion, um importante fórum de moda sustentável da América Latina. Sempre preocupada com a ecologia, ela atuou em projetos pioneiros, como a Amazon Life em 1993, produziu a primeira coleção feita com tecidos de hemp em 1994 e lançou em 2007, o primeiro jeans orgânico nacional com parceria da grife Cantão, com o selo NOW (Natural Organic Workld).
O livro faz abordagem crítica sobre a sustentabilidade da produção, dos ecossistemas do algodão e aos desafios que a emergência climática impõe à continuidade desse modelo de produção. Também investiga, do ponto de vista sociológico, como podemos definir e estabelecer os parâmetros validadores do conceito de sustentabilidade na agroindústria do algodão, e que têm impacto na indústria da Moda. Essa questão é relevante na medida em que a maior parte do algodão produzido, consumido e/ou exportado, tem certificações que asseguram sua sustentabilidade socioambiental. O conceito de desenvolvimento sustentável é amplamente utilizado pelos setores produtivos para seu posicionamento e conquista novos mercados.
Os agentes econômicos do agronegócio do algodão utilizam o atributo da sustentabilidade como estratégia de conquista de mercado nacional e internacional, e também para forjar um posicionamento enquanto grupo social modernizador da economia nacional, como transparência, rastreabilidade e práticas de menor impacto socioambiental na indústria da moda.
O trabalho de Yamê Reis ainda aborda como o cultivo de algodão no Brasil, mesmo com a utilização de agrotóxicos e fertilizantes e avançando sobre o cerrado, adquire o atributo de produto sustentável com a certificação internacional BCI – Better Cotton Initiative (traduzido do inglês: Iniciativa por um Algodão Melhor), organização sem fins lucrativos que começou em 2005.
Yamê destaca o trabalho da Embrapa que procura reduzir o fluxo de atividades extrativistas, recuperação de áreas florestais e garantir a segurança alimentar. E lembra que o desiquilíbrio ecológico contínuo ameaça a biodiversidade e o algodão faz parte da revolução verde.
O livro pode ser adquirido pelo link: https://www.livrosilimitados.com.br/product-page/o-agroneg%C3%B3cio-do-algod%C3%A3o.