por Bruno Cavalcanti
Idealizado e produzido pelo ator, apresentador e humorista multimídia Fábio Porchat, o Prêmio do Humor estreou na noite de ontem, 12 de março, seu braço paulistano, em uma cerimônia que reuniu boa parte da classe teatral da cidade. Sediada na Casa Bisutti, na zona sul de São Paulo, o evento se destacou entre outros do gênero por seu caráter enxuto, negando qualquer opulência e apelando para uma realização ágil.
Apresentado pelo próprio Porchat, a premiação correu a noite em (menos de) uma hora e meia sem barrigas e abrindo espaço para a transgressão que se confundiu com a emoção do homenageado da noite.
Prestando um tributo a Jô Soares, o Prêmio contou com a presença de Cássio Scapin, Marcelo Medici e do próprio Porchat, em discursos que reverberaram não apenas a importância do ator, diretor e apresentador, mas também seu caráter iconoclasta – sublinhado por pequenos comentários ao longo da noite, diretamente de sua mesa.
No que diz respeito às (também enxutas) categorias, a noite se dividiu entre surpresas e a confirmação de favoritos.
Em uma premiação que também visa a valoração de todas as formas de humor, escapando a uma chancela conservadora, foi sintomática a vitória do humorista Thiago Ventura na categoria Melhor Texto pelo stand-up Só Agradece.
Ventura desbancou os dramaturgos Fábio Brandi Torres (pelo excelente Michel III – Uma Farsa a Brasileira) e Marcelo Mirisola e Nilo Oliveira (por Paisagem em Campos do Jordão), favoritos naturais à categoria.
Michel III – Uma Farsa a Brasileira, entretanto, levou Melhor Direção, assinada por Marcelo Varzea. Retornando ao ofício, no qual estreou em 1993, assumindo a batuta do espetáculo Do Kitsch ao Sublime, de Ithamar Lembo e Marcelo Saback, Varzea criou uma assinatura farsesca que não só se alinhou com perfeição ao texto de Torres, como fez crescer a interpretação de atores como Martha Meola e Marcelo Diaz – inexplicavelmente sem indicações na noite.
Varzea desbancou dois favoritos, João Falcão (por A Dona da História) e Diego Fortes (por Moliére). Mas a verdadeira surpresa da noite foi a categoria “Melhor Performance”. Com o maior número de indicados da premiação (o total de 09), a atriz Carolina Ferraz venceu os favoritos Thiago Ventura (por Só Agradece) e Suely Franco (por Quarta-Feira, sem Falta, lá em Casa).
Figura bissexta nos palcos, Ferraz venceu por sua performance na comédia Que tal Nós Dois?, escrita e dirigida por Otávio Martins. Disputando o favoritismo com Patrick Maia, pela criação do Clube do Minhoca, o ator, diretor e dramaturgo Eduardo Martini recebeu o prêmio na Categoria Especial, celebrando seus 40 anos de carreira e sua contribuição para o teatro paulistano.
Em um dos maiores (e mais emocionados) discursos da noite, Martini relembrou sua história e dividiu os holofotes com os que considera “realizadores” do teatro paulistano na última década, entre eles os jornalistas e jurados Miguel Arcanjo (Uol), Dirceu Alves (Veja SP) e Fabiana Seragusa (Culturice e Folha de S. Paulo), o ator e diretor Isser Korik (gestor do Teatro Folha), o empresário Erlon Bispo (gestor do Teatro Itália) e o produtor e agitador cultural Marco Griesi (que também assina a gestão do Teatro Porto Seguro).
Última categoria da noite, “Melhor Peça”, apresentada com longo e emocional discurso de Denise Fraga, premiou a dupla Marcelo Medici e Ricardo Rathsam pelo (excelente) Teatro Para Quem não Gosta, espetáculo anárquico e transgressor no qual os atores recontam a história do teatro através de seu olhar intimamente sardônico.
Em seu primeiro ano na capital paulista, o Prêmio do Humor, embora não tenha reinventado a roda das premiações do gênero, se destacou pelo caráter enxuto e sem firulas, sabendo entreter o público, fosse nas rápidas (e certeiras) aparições de Fábio Porchat dialogando com convidados e vencedores, fosse pelo corpo de jurados que, com rara inteligência, soube surpreender e transgredir.
Prova de que, mesmo sem patrocínio, é possível fazer um evento sem opulências que foge da auto-homenagem – já corriqueira em premiações paulistanas – para prestar um tributo ao humor e a seus indicados.