por Anna Ramalho
Mais um amigo muito querido fez a travessia para a outra margem do rio. Cansou disso aqui e partiu. Foi-se de mansinho, discretamente como era de seu feitio mineiro, meu queridíssimo Mauro Campos, tricolor entusiasmado, um chefe de família como poucos conheci, um agregador de afetos de primeira grandeza.

Mauro Campos viveu cercado de afetos. Aqui com mulher Gilsse, os filhos Marcio e Gisela, as netas Matilda e Manuela no último Dia dos Pais
Foi um baque, um choque, uma cacetada daquelas. Morte suave para quem vai, terrível para quem fica. Na cerimônia do adeus, hoje, reinava a perplexidade. Ninguém queria acreditar que aquele gentleman, sempre tão elegante, tão presente em todos os momentos da vida de todos nós, nos tivesse pregado aquela peça.
Velava o Mauro e me lembrava de tantos momentos que passamos juntos – ele sempre com sua Gilsse, os filhos Gisela e Márcio, as netas Manuela e Matilda e a espanhola Carlota, porque família vinha na frente de tudo – aqui no Rio nas animadíssimas festas em sua casa, em Lisboa, na fazenda de Mathias Barbosa, em Madri, no primeiro casamento do Márcio, em Toledo, na Espanha. Como nos divertimos nessa viagem! A “delegação brasileira” andava num ônibus que Mauro alugou para que fizéssemos a travessia Madri-Toledo-Extremadura-Lisboa naquele verão escaldante de 2004. Muito vinho, muitas tortillas, muitas gargalhadas.
Lembranças felizes são o que nos resta nessas horas de tristeza, quando só queremos chorar a dor de uma perda tão prematura e inesperada.
Amigo querido, pelo ser humano que você foi, tenho certeza de que a esta altura já está muito bem instalado na nuvem mais bem frequentada do céu dos eleitos e pronto pra botar o papo em dia com tantos dos nossos queridos que já partiram. Luz e paz pra você, Mauro Campos. Amor eterno.
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Na caixa de mensagens onde acumulam-se às centenas releases dos mais variados – e em sua maioria desinteressantes assuntos – chega um que me chama a atenção e me emociona: em dezembro vem aí uma outra versão do filme Mulherzinhas – a mais recente adaptação para a obra imortal de Louisa May Alcott.

As Mulherzinhas versão 2019: nos cinemas em dezembro. Não perco por nada
Foi dos primeiros livros que minha mãe me deu pra ler e um que ela mesma leu muito jovem: Little Women foi lançado em 1868 e conta a bonita e singela história das irmãs March – Meg, Jo, Beth e Amy – durante a Guerra Civil Americana. Chorei muito lendo o livro e vendo o filme – a versão de que me lembro mais tinha uma jovem e ainda desconhecida Elizabeth Taylor como uma das irmãs, a Amy. Corri no Google e descobri que é de 1949, ano em que nasci, daí a Liz Taylor ser ainda praticamente uma meninota.

Elizabeth Taylor como a Amy da primeira versão de Little Women, filme de 1949
Em algum lugar aqui de casa, no meio das minhas estantes repletas, está o livro de mamãe, no original, com o nome dela e a data que leu na folha de rosto. Tenho que achar para passar às minhas netas. É um romance lindo, ingênuo, delicado, mas, ao mesmo tempo e estranhamente, bem de acordo com os conceitos de sororidade e feminismo dos nossos dias.
A nova produção, com estreia anunciada para 25 de dezembro nos Estados Unidos, promete. No papel de Mrs. March, a mãe que segura a onda, a casa e a família enquanto o marido luta na guerra, Laura Dern. A estupenda Meryl Streep faz a Tia March. Entre as meninas, Emma Watson e Saorsi Ronan, aquela lourinha que surgiu para o estrelato roubando a cena em Desejo e Reparação. Doida pra ver.
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Ando precisando demais de momentos de enlevo e delicadeza. Desconfio de que eu e a torcida do Flamengo, né, não?