por Bruno Cavalcanti
Quando o diretor César Baptista se encontrou com a obra do escritor carioca Raphael Montes em 2015, na adaptação para os palcos do best-seller Suicidas, nascia ali uma linguagem teatral que abusava de uma experiência cênica irmã do thriller cinematográfico, proporcionando ao público uma vivência claustrofóbica.
A peça – sob o título de Roleta Russa – não só premiou Baptista, como também alçou – com justiça – seu nome ao Olimpo dos grandes diretores contemporâneos. Porém, em Dias Perfeitos, sua segunda adaptação para um livro de Montes, a fórmula da vivência cênica demonstra claros sinais de desgaste.
Não há em Dias Perfeitos (em cartaz no Teatro Augusta, na Cerqueira César) nem sombra da tensão que pautou Roleta Russa, tampouco o clímax que se faz necessário para que a história do estudante de medicina Téo e da pretendente a roteirista Clarice tenha o efeito alardeado na divulgação (como uma obra de tons claustrofóbicos como sua antecessora).
O diretor não consegue criar o ar de tensão e suspense ao qual a peça se propõe, e muito deste problema está enraizado na adaptação. Com o intuito de contar a história em seus mínimos detalhes, Baptista sacrifica o timing da peça que, embora tenha uma hora e meia, resulta excessivamente longa.
As cenas soam repetitivas e o (bom) elenco começa a repetir gestos e marcas, num looping cênico que, embora devesse resultar agoniante por sua natureza voltada ao terror, soa apenas cansativa. Dani Brescianini e Hélio Souto Jr. encabeçam o time de atores, que conta ainda com Arno Afonso e Leonardo Vasconcelos.
Brescianini percorre caminhos menos tortuosos na construção de sua Clarice, enquanto Souto Jr. se permite experimentar linguagens que fazem de seu Téo uma personagem dúbia, bailando com solidez na linha fina que separa a caricatura do naturalismo.
Se há um inegável acerto da direção de Dias Perfeitos está na transposição para o palco da linguagem road movie que inspirou o livro de Montes. Baptista abre mão da obviedade e constrói cenas que surtem efeitos (realmente) impressionantes – sobretudo no trajeto percorrido pelas personagens durante a viagem.
Mas este é ponto fora da curva em Dias Perfeitos, peça que mostra que, sim, César Baptista é um dos grandes diretores de sua geração, mas já chegou a hora de percorrer caminhos menos seguros, sobretudo no que diz respeito às adaptações, para que não corra o risco de desgastar por completo uma linguagem que já rendeu uma obra grande como Roleta Russa.
SERVIÇO:
Dias Perfeitos
Data: 03 de junho a 30 de julho (sábados e domingos)
Local: Teatro Augusta – São Paulo (SP)
Endereço: Rua Augusta, 943 – Cerqueira César
Horário: 20h
Preço do ingresso: R$ 30,00 (meia) a R$ 60,00 (inteira)