por Olga de Mello
Quando Bob Dylan foi anunciado como ganhador do Nobel de Literatura deste ano por sua contribuição para a música popular norte-americana, muito se lembrou da importância do inglês David Bowie para o panorama cultural mundial e nas canções dolentes, com letras elaboradas, do canadense Leonard Cohen. Bowie já havia morrido, Cohen ainda estava vivo. Ao partir do planeta há uma semana, ele foi apontado como grande influência para a boa parte dos músicos do cenário internacional contemporâneo. Entre seus admiradores confessos está o próprio Bob Dylan, cuja obra Cohen sempre exaltou, comparando o Nobel concedido ao amigo como a “premiação de um Everest” da cultura.
Com suas canções melancólicas, voz grave, sempre elegante, de paletó e chapéu, Cohen publicou uma dúzia de livros de poesia e dois romances. O amor pela literatura era tamanho que a filha recebeu o nome de Lorca, pois não queria que o poeta espanhol “passasse” por sua vida, mas que dela participasse, sempre. A descoberta de Garcia Lorca, na adolescência, estimulou Cohen a escrever poesia, porque pretendia “responder àqueles poemas (de Lorca). Cada poema que toca você é como um chamado que precisa de resposta”, dizia ele em entrevistas. Ao mesmo tempo, afirmava que sua principal razão para a incursão na poesia era a facilidade em atrair moças bonitas, numa época que “não era como hoje; você não dormia com a sua namorada. Eu só queria abraçar alguém”. As tiradas bem-humoradas do romântico compositor romântico, adepto do budismo, mas que sempre observou os preceitos judaicos, estão em I’m your man – A vida de Leonard Cohen (Best-Seller, R$ 79,90), de Sylvie Simmons. A biografia mostra a extrema dedicação de Cohen à música e seu apuro como compositor – ele levou cinco anos trabalhando a mais conhecida de suas canções, Hallelujah, até considerá-la pronta para ser lançada.
A devoção à literatura é um dos temas de Elena Ferrante, a italiana que tem arrebatado leitores adultos que se comportam como adolescentes encantados por seus autores favoritos. O fenômeno editorial é analisado no documentário Ferrante Fever, do cineasta Giacomo Durzi, que vai abordar não apenas a qualidade de sua obra, mas a decisão de escrever sob pseudônimo, o que levou à uma investigação jornalística que teria descoberto a identidade da escritora. A Febre Ferrante gerou uma corrida nas editoras mundo afora para lançarem tudo o que ela já escreveu, como A filha perdida (Intrínseca, R$ 34,90), publicado em 2006, e Uma noite na praia (Intrínseca, R$ 34,90), seu primeiro livro destinado ao público infantil. A ambientação das duas histórias e é a mesma: a praia numa cidadezinha turística. A trama também tem elementos comuns: uma bonequinha é perdida. É na praia que a
protagonista de A filha perdida, a professora universitária Leda, observa uma família de napolitanos barulhentos, exatamente o tipo de pessoas das quais tentou se distanciar a vida toda. A mobilização para encontrar a boneca da menininha Elena, que está sempre sob cuidados de sua jovem mãe, Nina, aproxima Leda do grupo, e a leva a recordar suas próprias escolhas. Uma noite na praia parte do ponto de vista de Celina, a boneca que Mati esquece na areia, quando seu pai lhe traz de presente um gatinho. Falando belamente de abandono, amor e temores, as duas narrativas se complementam dentro do universo melancólico de Elena Ferrante.