Quem não tem gratidão não tem caráter, dizia minha mãe, e repetia como um mantra, durante todos os anos da minha formação. Tenho repetido o mantra ao meu filho e o mesmo farei com Bela Antonia, tão logo ela tenha idade para entender a profundidade da coisa. Gratidão é coisa séria. E rara. Raríssima. Quando se encontra um grato pela vida, é hora de espanto, podem crer. A gratidão me veio à cabeça, quando comecei a ler o livro de Ricardo Stambowsky, A vida é uma festa, que reuniu em torno do autor, os muitos gratos pelos excelentes serviços que ele lhes prestou nos casamentos, bodas, 15 anos e que tais que organiza com perfeição, noves fora as centenas de amigos que fez ao longo da vida – muitos destes também seus clientes.
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Houve uma época, ali pela década de 1970, em que o colunismo social era feito por Zózimo Barrozo do Amaral, no Jornal do Brasil, Ibrahim Sued, Nina Chaves e Carlos Swann, em O Globo. Os Swanns – e é aí que entro na dança, em 1977, quando passei a integrar o time – eram, então, Carlos Leonam e Fernando Zerlottini, dois jornalistas da maior categoria, que muito me ensinaram.
Álvaro Americano foi o primeiro Swann, Zózimo, o segundo, Maritza Osório, o terceiro. Depois, os “meninos”. E depois deles, por brevíssimo tempo, Ricardo Boechat, que em poucos meses, passou a dar seu nome à coluna. Tirou Proust sumariamente da jogada. Noves fora o Boechat, que brilha a cada dia mais na exata proporção de seu desmesurado talento e faro de repórter, todos os outros saíram do combate diário – por morte ou por aposentadoria. Forçada, diga-se. Carlos Leonam continua vivíssimo e espertíssimo – que o digam seus leitores na Carta Capital e os companheiros de Facebook. Ainda tem muito o que ensinar e por que ser lembrado.
Os colunistas daquela época tinham um imenso poder. Não havia internet. O trabalho era se pendurar no telefone e partir em busca das notícias. Havia censura ainda, daí o foco mais no social – nas festas, que hoje são também mais raras, nos chás das madames, no famoso cineminha do Harry Stone. Para os colunáveis ( termo cunhado pelo Leonam) a vida só tinha graça se lessem seus nomes nos jornais. No meu tempo de Swann, atendia as madames desesperadas por uma notinha que fosse, “olha, não esquece de mim, eu estava lá, no casamento da Bebel!!”. Cansei de ouvir este tipo de pedido. E o casamento da Bebel, ou de lá quem fosse, tinha centenas de pessoas, mas a gente não podia esquecer daquela.
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Ricardo Stambowsky viveu bem este tempo. Nunca foi deslumbrado, aliás. Sempre gostou de aparecer, porque todos gostam, mas de uma maneira mais saudável. Voltemos à gratidão. Fernando Zerlottini, o côté Swann mais sociável e social, aquele que encarava os jantarecos chatíssimos, os coquetéis quase diários, os casamentos que só têm graça para os noivos e seus pais, foi esquecido por todos quando saiu do jornal. Exceção feita a literalmente uma meia dúzia de pessoas daquele tempo de glória.
Hoje ele está doente, às vésperas de fazer 80 anos, vivendo de mísera aposentadoria. Mudou-se semana passada, sob veementes protestos, para sua Juiz de Fora natal, onde está sob os cuidados das irmãs Flora e Rosaly.
Ricardo Stambowsky me emocionou. Nas primeiras páginas do livro, cita o Zerlot e todo o apoio que dele recebeu quando resolveu abrir uma danceteria em Juiz de Fora com o amigo Luiz Celso Monteiro de Andrade.
Hoje mesmo vou despachar um Sedex 10 com o livro para Juiz de Fora. O Zerlot merece saber que pelo menos um de todos aqueles colunáveis não o esqueceu.