Em 2010, Álamo Facó recebeu a notícia de que sua mãe, a arquiteta Marpe Facó, havia sido diagnosticada com um tumor cerebral. Desde aquele momento, o ator acompanhou a batalha da mãe contra a doença até o dia em que já não pôde mais lutar. Desde então, o profissional escreveu um diário com impressões acerca da doença, das reações da mãe e de tudo o que presenciou durante os 100 dias de luta de Marpe.
Este diário foi o cerne da origem do texto “Mamãe”, a peça que estreou em dezembro no Rio de Janeiro e, desde então, vem angariando sucesso de público e crítica. E não é clichê. Desde sua estreia, “Mamãe” já emendou três temporadas em diferentes teatros cariocas e chegou até o Festival de Teatro de Curitiba, e, desde o dia 07 de julho, está em São Paulo, no Auditório do Sesc Pinheiros, onde permanece até o dia 06 de agosto.
Depois, o drama deve viajar para além-mar, em festivais em Cabo Verde, na África, Edimburgo, na Escócia e para cidades no interior da China, antes de voltar ao Brasil para viajar mais. Mas, se depender da vontade do ator, “Mamãe” ainda terá uma longa vida na capital paulistana, a qual Álamo vê como uma das maiores capitais teatrais da América Latina.
Confira o papo que o artista bateu com a coluna pouco antes de uma das sessões da peça, no Sesc Pinheiros:
Conexão Sampa: Como tem sido a resposta do público para a temporada?
Álamo Facó: Tem sido muito especial. São Paulo é muito especial, é uma capital teatral da América Latina; tanto São Paulo quanto Buenos Aires. Poucas outras cidades são tão imbatíveis teatralmente falando: a quantidade de espetáculos, a quantidade de profissionais que trabalham para o teatro, a quantidade de público que vai ao teatro… não tem em outras cidades. Eu só consigo pensar em Buenos Aires e São Paulo, acho que nem a Cidade do México tem uma força tão grande em teatro. E com a ajuda dos SESCS e dos SESIS, São Paulo consegue, mais do que o Rio e outras cidades, criar um público de teatro de quase todas as classes sociais. A minha peça, por exemplo, tem o valor do ingresso que vai de R$ 7,50 a R$ 25,00 reais, o que não se poderia sem o Sesc e o Sesi apoiando o projeto. Apoiando e, claro, comprando a apresentação, também é uma via de mão dupla, mas é muito emocionante estar numa cidade onde a gente vê o cara que vai te trazer para cá no táxi falando que quer assistir, o cara que vai te receber na recepção falando que quer assistir, isso o Sesc e o Sesi viabilizam.
CS: Pterodátilos, do Nicky Sylver, foi um dos seus trabalhos mais icônicos no teatro. Você enxerga semelhanças entre o seu texto e o trabalho do Sylver?
AF: Tem os exageros. Eu adoro escrever com certos borrões e eu acho que ele tem isso também. Eu não ousaria falar isso, mas uma grande amiga minha falou: é como o Francis Becon vai pintar de uma forma torta e maravilhosa, que vai trazer uma emoção naquilo, na pintura dele, mas é o que eu conseguiria ver como identificação no Sylver, os exageros. É não ter medo de falar “eu tenho um tumor na minha cabeça do tamanho de uma maçã”, isso é um exagero, e o Nicky Sylver faz isso muito bem.
CS: Como é lidar toda noite com esse tema tão delicado para o público e para você mesmo?
AF: É muito trabalhoso, mas é também prazeroso porque me exige muita dedicação. Eu não faço quase nada no dia, eu acordo, treino, fico na sauna sozinho no escuro, almoço, deito no chão, fico no escuro no chão, que é pra tentar chegar num lugar meditativo, quase de transcendência porque é um assunto tão delicado, e se eu não estiver nesse estado, e estou falando de algo muito sutil, muito subjetivo, talvez o público passe a rejeitar, o que nunca aconteceu com essa peça. Mas já tive graus de emoção, de comoção, assustadores, que tem a ver com o estado que eu apresento a peça. Quase um sacerdócio. Aliás, não um sacerdócio porque remeteria a uma devoção, algo de baixo pra cima, mas é algo de prazer também, um cara vasculhando a imaginação, o passado, indo a águas profundas. É também muito prazeroso. Ou então o próprio corpo humano, tem um isolamento para eu fazer coisas que eu não faço no dia a dia, só quando tem gente olhando mesmo.
CS: Existe a possibilidade de estender a temporada em São Paulo, como no Rio?
AF: Eu queria muito fazer mais uma temporada depois dessa, eu acho que tem tudo a ver porque ela foi tão bem recebida, está indo super bem aqui. Mas eu acho loucura fazer em um teatro que eu tenha que ou pagar o mínimo, ou pagar percentual de bilheteria. Eu tenho equipe no Rio de Janeiro, então eu teria que pagar as passagens. Estreou com um apoio do Sesc de 30mil reais, com o qual eu paguei o cachê simbólico, o material da peça – que, em termos de material, deve ter custado 6 ou 7 mil reais –, então eu teria que pagar passagem da equipe inteira, hospedagem e o valor deles. Eles ganham para operar, é uma hora e meia de trabalho, mas tem o montador com oito horas de trabalho, quando são quatro vezes na semana não é uma coisa barata. Então se eu tiver apoio, ou outro Sesc quiser levar a peça, eu viria com todo o prazer, eu adapto minha agenda no Rio pra isso, mas, de outra forma, é forçar a barra. Mas também estamos acostumados a forçar.
SERVIÇO
Mamãe
Data: 07 de julho a 06 de agosto (quinta a sábado)
Local: Sesc Pinheiros – Auditório – São Paulo (SP)
Endereço: Rua Pais Leme, 195 – Pinheiros
Horário: 20h30
Preço do ingresso: R$ 7,50 a R$ 25,00